O Oriente Médio é conhecido historicamente por muitas coisas – mas a sustentabilidade não é um delas.
OOriente Médio é conhecido historicamente por muitas coisas – mas a sustentabilidade não é um delas. O choque de valores ocidentais com a dureza do clima local pode muitas vezes colocar as questões de sustentabilidade em situações delicadas. Embora exista uma grande crítica em relação aos aspectos insustentáveis do desenvolvimento da região, há uma exceção: a Cidade de Masdar, nos Emirados Árabes Unidos, 17 km a leste-sudeste da cidade de Abu Dhabi.
A Cidade de Masdar existe como um projeto de desenvolvimento urbano executado pela companhia de energia renovável Masdar, que direcionou 15 bilhões de dólares para torná-la a cidade mais sustentável do planeta. Ao contrário de Abu Dhabi, uma cidade que segue os modelos e princípios antiquados de construção ocidental, a Cidade de Masdar apresenta grande potencial a oferecer ao mundo do urbanismo verde – algo que o mundo realmente necessita.
Mas a Cidade de Masdar certamente não está livre de críticas. Na primeira abordagem, o desenvolvimento concentrado, localizado no centro de um espaço vazio de seis quilômetros quadrados, pouco impressiona, especialmente quando em comparação com a extensa onda que é Abu Dhabi. Graças à grande recessão financeira global, atualmente edificações compreendem menos de 10% da área designada ao experimento urbano. Ainda hoje em dia existe um grupo de observadores que sugere que a Cidade de Masdar não passa, afinal de contas, de uma miragem.
Entretanto, esta visão mais ampla não é necessariamente sinônimo do contexto geral.
Projetando o Oasis
Desde a sua criação, o plano diretor da cidade foi conduzido pelo escritório Foster + Partners, que também projetou todos os edifícios que existem até o meomento (exceto o mais recentemente, o Siemens Building). Nada na cidade parece ter sido concebido sem uma intenção pensada. A “fisionomia” de cada edificação, o fim de todas as ruas e o layout de cada espaço público é parte de uma composição equilibrada. Nada parece fora do lugar ou estranho. Poderia-se argumentar que ter um único escritório por trás dos esforços de projeto comprometeria as oportunidades de eventos aleatórios urbanos, a condição residual não intencional, o acaso não premeditado, que tantas vezes define os espaços urbanos que amamos. Ao mesmo tempo, o que existe agora é apenas uma fração do tecido planejado da cidade, previsto para abrigar 40 mil moradores, além de 50 mil pessoas com trajetos pendulares diários.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/623627/por-dentro-da-cidade-de-masdar
Andando pela cidade, o Gerente de Projeto da Cidade de Masdar, Chris Wan, me mostra os vários componentes de cada edificação que trabalham no sentido de criar um ambiente urbano sustentável em um dos climas menos amigáveis do mundo. Algumas edificações são revestidas de painéis de terracota que servem como varandas privativas, outros recebem revestimento de delicadas telas metálicas enquanto alguns testam painéis reflexivos.
As edificações do núcleo existente apresentam de 4 a 5 pavimentos. A ausência de carros permite que a circulação principal seja mais estreita, trazendo o benefício adicional da proteção solar passiva para a superfície da rua. De acordo com Wan, as ruas contam com apenas 30 a 45 minutos diários de exposição solar direta, contribuindo com o fato de que as temperaturas registradas no interior da Cidade de Masdar são de 10 a 15 °C a mais baixas do que em Abu Dhabi .
Grandes resultados com alterações simples
Em conjunto com as células fotovoltaicas no topo das diversas edificações, uma impressionante instalação solar de 10 MW se localiza no limite da área de urbanização, produzindo mais energia limpa do que a cidade utiliza no dia-a-dia. O eixo principal da cidade é rotacionado para alinhar a malha ao vento dominante. Wan sugere que as estratégias passivas de projeto podem contribuir muito para o sucesso da cidade em longo prazo: “Grande parte da economia vem de uma arquitetura simples e boa,” insiste Wan.
A funcionalidade permeia todo o desenvolvimento do plano ao longo de suas muitas fases e iterações. Quando a empresa Sheppard Robson, com sede em Londres, propôs seu projeto para a nova sede da Siemens no Oriente Médio, optou por erguer a edificação do solo de modo a aproveitar a ventilação natural. No processo também criaram um espaço público sombreado ao nível da rua com vistas para o resto do terreno. Tudo soa tão bem quanto um slogan, mas quando você está embaixo do edifício e ergue os braços com a brisa passando por você, não há como negar que a estratégia realmente funciona. Wan estava certo quando orgulhosamente declarou: “Você não vê o plano diretor, você sente o plano diretor. Nenhum desenho pode substituir isso. “
Apesar da edificação da Siemens ser a primeira a receber o selo LEED Platinum em Abu Dhabi — o que não é uma façanha fácil no meio do deserto – Wan não vê isso como o ponto final.
Mesmo assim, quem vem para a Cidade de Masdar em busca de algum avanço tecnológico que não pode ser encontrado em mais nenhum lugar do mundo pode se desapontar. Mas, o fato é que, não apenas não há uma solução milagrosa, como nós também não precisamos de uma para o progresso, muito progresso. A Cidade de Masdar incorpora esta realidade e nisso está o seu maior trunfo. Sua concepção física a separa dos inúmeros modelos urbanos teóricos (bem intencionados) que esperam ser construídos.
Um padrão sustentável, lento e estável
A Cidade de Masdar é um dos espaços urbanos sustentáveis mais impressionantes e bem sucedidos ainda a ser construído. Representantes oficiais da cidade esperam que a maioria do trabalho esteja concluído até o ano de 2030. No entanto, dentro de sua promessa de crescimento rápido pode estar o maior risco para a sua autenticidade: a expansão muito rápida.
Algumas pessoas podem dizer que Masdar reduziu a velocidade em resposta à crise financeira mundial, mas o ritmo mais lento pode muito bem ter sido uma benção para a paisagem urbana, permitindo que haja mais tempo para estudar os efeitos parciais do crescimento da cidade. Enquanto todos gostariam de ver a cidade ser terminada, fazer o projeto crescer muito rapidamente pode ser o caminho mais imediato para comprometer seus valores, tornando-o mais um parque temático do que um autêntico ambiente urbano. O projeto vai trazer muito mais qualidades para o mundo da sustentabilidade sendo um lar melhor do que sento um Epcot Center melhorado; um lugar melhor para se viver do que um local melhor para se “vir e ver.” Se continuar a crescer e aprender lenta e gradativamente, a Cidade de Masdar um dia se tornará um modelo a se replicado – ou então, se tornará rapidamente uma mera exibição de boas intenções.
Com foco no projeto sustentável, Tyler Caine, profissional creditado em LEED pelo Instituto Americano de Arquitetos (AIA), é um arquiteto que trabalha atualmente no COOKFOX Architects em Nova Iorque. Ele escreve sobre a interface cultural da sustentabilidade em seu blog Intercon.
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