Com ideias semelhantes ao projeto do Apple Park (imagem), a nova Villa XP nasce com a proposta de “estimular a convivência das pessoas”. Mas, distante da cidade de São Paulo e avessa ao adensamento, ela dificilmente proporcionará os desejados encontros ocasionais a que se propõe.
Aos olhos dos urbanistas, convivência e trocas pressupõem densidade populacional, diversidade, riqueza cultural. Espaços abertos, transitáveis pelos cidadãos sem nenhum impedimento, integrados à cidade, de fácil acesso, que gerem uma sensação de comunidade, pertencimento. Local de encontros ocasionais, que os urbanistas denominam “Ballet das Ruas”, principal ingrediente do estímulo de convivência e intercâmbio de conhecimentos.
Uma vila com a proposta de “estimular a convivência das pessoas”, como foi anunciada pela XP Investimentos, localizada a uma hora da cidade de São Paulo, com heliponto, fácil acesso a aeroportos e a rodovias de excelente qualidade, destoa da própria finalidade a que se propõe.
É difícil pensar como fazer essa mágica acontecer em 500 mil m². Mesmo quando presentes, simultaneamente, os 2.700 funcionários da empresa. Ainda que levassem para a área suas famílias, não gerariam qualquer adensamento populacional.
A área da JHSF pode ser, além de um excelente negócio, um retiro espiritual, um clube privado para grandes investidores, um belo veículo para alocar os recursos dos FIIs, mas dificilmente proporcionará os desejados encontros ocasionais.
Além da inexistência de densidade humana, faltará diversidade — e cidades prosperam pelas trocas culturais. Já a crença de uniformização de pessoas, a começar pela padronização estética dos coletes, é a antítese da criatividade, detectável nos parques tecnológicos mundo afora, estes sim, mecas da inovação, onde nos deparamos com diversidades criativas e culturais na forma, por exemplo, de tatuagens, piercings, moicanos e múltiplas cores.
A cidade de São Paulo pode ter todos os defeitos de segurança, mobilidade e disputa por espaços exclusivos, mas de cultura e capital intelectual ela é abundante.
A cidade de São Paulo pode ter todos os defeitos de segurança, mobilidade e disputa por espaços exclusivos, mas de cultura e capital intelectual ela é abundante. E há muita gente apostando e não desistindo dela.
Incorporadoras hoje premiadas como a Idea!Zarvos — que trata a arquitetura como arte, faz relação ao seu entorno e deixa um legado para a cidade — apontam para o centro.
São Paulo precisou de um francês, o empresário Alexandre Allard, para adquirir o Hospital Matarazzo, vizinho do MASP, e nos dizer: “Não há luxo sem cultura”. O projeto, do arquiteto premiado Jean Nouvel, dará lugar a Cidade Matarazzo, que reunirá muito da cultura brasileira, desde grafites de nomes conhecidos até artesanato de povos indígenas.
O edifício Martinelli, por exemplo, está à espera de uma parceria público-privada para revitalizar seu terraço e desenvolver um novo ponto turístico para São Paulo. Por que não retrofitar a antiga sede de um bancão? Certamente o terraço do Martinelli geraria mais fluxo e valor para a marca, principalmente cultural, do que a redoma 4D.
Por sinal, o Bar do Cofre poderia ser a XP! Aliás, são infinitas as potencialidades para a empresa fincar sua bandeira, difundir sua cultura e fomentar share of mind.
Também há inúmeras opções em estruturas menores, igualmente voltadas para experiência e cultura, mas com mobilidade e aluguéis no entorno acessíveis. São Paulo experimenta o “novo normal” há anos. Inicialmente, com a Regus, depois com o Distrito Makers, Cubo e, mais recentemente, com o State, todos lugares onde os assuntos colaboração, criatividade, networking, flexibilidade, expansividade, descentralização, trabalho remoto e terceirização são pautas antigas e assimiladas. Uma boa opção para a empresa se espalhar e ficar mais acessível a seus funcionários, com lugares de boa mobilidade urbana, valorizando ícones da cultura e da arquitetura daquele bairro e fomentando um ambiente criativo em que a pessoa pode morar no centro.
O que a XP sempre fez melhor do que os bancões, e precisa continuar fazendo, é se aproximar dos clientes e potencializar a cultura já existente na cidade. Afinal de contas, seus clientes estão e continuarão na cidade. E, como ouvi do professor de Harvard, Edward Glaeser, “as cidades são a maior invenção da humanidade”.
É preciso apostar na cidade, não por dever social, mas por acreditar no resultado do investimento quando alocado em um ecossistema criativo e diverso como São Paulo oferece.
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