Em debates sobre gentrificação – nome atribuído ao processo de transformação de centros urbanos mundo afora, os apontamentos sobre os “culpados” pelo fenômeno costumam prevalecer, sem a devida análise aprofundada das causas e a reflexão sobre as possibilidades de atenuação dos seus efeitos.
Em debates sobre gentrificação – nome atribuído ao processo de transformação de centros urbanos mundo afora, os apontamentos sobre os “culpados” pelo fenômeno costumam prevalecer, sem a devida análise aprofundada das causas e a reflexão sobre as possibilidades de atenuação dos seus efeitos. “O desafio dessa mudança urbana que as pessoas chamam de gentrificação não é pará-la, mas descobrir maneiras de garantir que ela produza benefícios, se não para todos, para uma ampla gama de moradores atuais e futuros do bairro”.
A afirmação é do economista norte-americano Joe Cortright, presidente da Impresa, empresa de consultoria especializada em análises econômicas regionais, inovação e clusters industriais. Especializado em economias urbanas, ele decidiu lançar luz sobre o tema e produziu uma extensa lista com as questões que as pessoas costumam atribuir como “culpadas” no artigo “Tudo o que causa gentrificação: de A a Z”, publicado no blog City Observatory, do qual é colaborador. Ele argumenta que é preciso fazer mais do que reclamar dos sintomas da mudança, e olhar mais profundamente para entender as causas e desenvolver políticas que irão minimizar seus efeitos negativos.
Joe Cortright pontua que as cidades, e seus bairros, são estruturas sociais e vivas e que, por isso, sempre estarão em estado de mudança, muitas vezes impulsionado pelo curso natural da vida das pessoas. “É uma ilusão sugerir que qualquer bairro permanecerá inalterado, especialmente os bairros de baixa renda”, enfatiza. Para ele, o problema real é “a escassez de cidades”, o que provoca os desafios de viabilidade e deslocamento, referindo-se à existência de poucas áreas urbanas boas e à falta de moradias em quantidade para atender a demanda dos que desejam morar nessas áreas. A solução, para ele, não é bloquear a mudança, mas construir mais moradias e mais bairros como esses para a conquista de cidades mais inclusivas e mais justas.
De artistas a zoneamento
A lista criada por Joe Cortright relaciona “culpados” que costumam ser atribuídos nos debates sobre gentrificação em diferentes setores da sociedade. Dentre eles estão os bancos, que financiam os incorporadores; a inauguração de cafeterias, restaurantes, boutiques e de galerias de arte no bairro; a construção de um estádio de futebol; entre outros.
O perfil da população, a evolução da indústria tecnológica, a democratização do acesso à Internet também figuram na lista produzida pelo economista. E até mesmo a solução de problemas essenciais, como a criação de parques e as obras para melhoria do transporte público, pois poderiam provocar a valorização da região e, em consequência, o aumento dos preços dos aluguéis dos imóveis.
“Nós simplesmente precisamos de novas áreas urbanas e mais moradia nas que já existem”, sintetiza Joe Cortright. Ele afirma que o maior obstáculo é que se tornou “praticamente ilegal” construir novos bairros urbanos densos e de uso misto, e diz que o zoneamento tornou impossível ou proibitivamente custoso construir mais moradias nesses lugares desejáveis. “Quando percebermos que os desafios que se manifestam como ‘gentrificação’ são problemas que nós criamos, e que as soluções estão sob o nosso controle, talvez possamos superar um jogo de culpa amargo e improdutivo”, sentencia.
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