A cidade que oferece uma das mais abrangentes experiências culturais da Europa está se consolidando como referência internacional em planejamento urbano voltado para pessoas.
A cidade que oferece uma das mais abrangentes experiências culturais da Europa está se consolidando como referência internacional em planejamento urbano voltado para pessoas. Na última semana, a prefeitura da segunda maior cidade do país (depois de Madri), deu um importante passo no revolucionário projeto de transformar a cidade em superquadras para a conquista de espaços públicos saudáveis, mais verdes, seguros e que favoreçam as relações sociais e a economia local. Na essência, o projeto desenha um novo mapa da cidade no qual os cidadãos são os protagonistas, o qual deverá começar a se tornar realidade a partir de 2022.
O inovador projeto inicia pelo bairro Eixample, que apresenta elevada densidade populacional, altos níveis de tráfego de veículos e de poluição e escassez de espaços verdes e confortáveis. A região foi escolhida estrategicamente por ser o atual centro metropolitano de Barcelona, considerando que a sua qualificação irá beneficiar a cidade como um todo. A partir do projeto das “superquadras”, uma em cada três ruas do bairro será transformada em um eixo verde e uma praça será criada a cada 200 metros.
Os eixos verdes são as chamadas “ruas pacificadas”, com locais de estada e maior arborização, que permitem circular a pé com conforto e segurança, mantendo a acessibilidade por transporte público em toda a área. No cruzamento destes eixos verdes, serão criadas praças, com cerca de 2.000 metros quadrados de área cada, planejadas para serem espaços confortáveis, com calçamento verde, permeável ou lúdico. A expectativa é, progressivamente, implantar 21 eixos verdes e 21 novas praças, ampliando o espaço do bairro em 334 mil metros quadrados (33,4 hectares) e o verde urbano em 66 mil metros quadrados (6,6 hectares).
Concursos públicos para definição da “Rua do Século 21”
Dois concursos públicos de ideias foram organizados para selecionar as equipes de arquitetos e engenheiros que ajudarão a definir o modelo da “Rua do Século 21”, que será implantada, futuramente, no restante da cidade e priorizará pedestres, recreação, hospedagem, vegetação e biodiversidade. A sessão técnica de apresentação dos detalhes dos concursos foi realizada no dia 19 de novembro, organizada pela Câmara Municipal de Barcelona e pelo Col·legi d’Arquitectes de Catalunya (COAC). Com transmissão on-line, a sessão pode ser assistida nesse link.
O mote do primeiro concurso é o desenvolvimento dos projetos de requalificação de quatro ruas do bairro Eixample que serão transformadas em eixos verdes – as do Consell de Cent, Girona, Rocafort e Comte Borrell; além de definir o padrão de rua do século 21. O segundo concurso abrange o planejamento das primeiras quatro praças, de dois mil metros quadrados cada, no cruzamento dessas ruas. A previsão é que os projetos sejam elaborados a partir de maio de 2021 e as obras comecem no primeiro trimestre de 2022, com um investimento de 37,8 milhões de euros nessas primeiras transformações.
Um escritório central e um conselho consultivo serão criados para monitorar e validação de projetos e sua posterior implementação. As oito equipes multidisciplinares que serão organizadas a partir dos dois concursos deverão trabalhar colaborativamente e de forma coordenada para aplicação do novo modelo de espaço público. Os projetos serão trabalhados em conjunto com a comunidade, com entidades, atores econômicos e associações profissionais, do bairro e da cidade. A intenção da prefeitura é reunir as melhores ideias e levar adiante as propostas com o máximo possível de consenso. A Câmara Municipal de Barcelona acompanhará esta transformação com uma campanha informação e comunicação aos cidadãos sobre os novos projetos que serão executados nos próximos anos. E todas as informações podem ser consultadas no site barcelona.cat/superilles.
Experiências consolidadas
A criação de superquadras é uma experiência que vêm sendo desenvolvida em Barcelona nos últimos anos. A primeira foi inaugurada em 2016, no bairro Poblenoue, e foi sendo replicada nos bairros Saint Antoni, Horta, Les Corts com previsão para abranger ainda mais regiões da cidade.
No Poblenou foram criadas quatro novas praças nos cruzamentos e recuperados mais de oito mil metros quadrados, que podem ser utilizados para outras funções além da mobilidade, como intercâmbio, lazer, cultura e participação. Mais de 200 estudantes de arquitetura foram convidados a apresentar propostas para promover a recuperação deste espaço público ao longo dos anos.
A principal transformação do local esteve centrada na mobilidade urbana, priorizando, nessa ordem, pedestres, ciclistas e veículos. Para tanto, a circulação do tráfego de automóveis pelo interior do bairro passou a ser impedida em algumas vias e a velocidade foi limitada a 10 km/h. Com o trânsito moderado, as bicicletas passar a poder circular nas duas direções, dispensando a configuração das ciclovias existentes até então – e são os únicos veículos que podem cruzar interseções em linha reta. “A maioria dos cidadãos circula a pé e este fato é muitas vezes esquecido. Os carros que, em termos percentuais, fazem menos viagens, são os que ocupam mais espaço. É uma questão de justiça urbana que este espaço seja redistribuído para alcançar um novo equilíbrio”, argumentou Mercedes Vidal, Conselheira para a Mobilidade, à época.
Nessas experiências já consolidadas, a prefeitura comemora os resultados atestados, como a melhora de indicadores como poluição – 33% menos do que dióxido de nitrogênio (NO2) no cruzamento Borrell / Tamarit, no entroncamento de Sant Antoni – e atividade comercial – 20 novos estabelecimentos de rua em Poblenou, 30,7% a mais. A circulação é outra área em que melhorou significativamente. Na superquadra Sant Antoni, 82% menos veículos passam pela Carrer del Comte Borrell, pois cerca de 6 mil deixaram de usá-la – de 7.216 a 1.266, conforme medição realizada. O ganho de pedestres também é comemorado, pois hoje há 28% mais pessoas caminhando, brincando e fazendo atividades na superquadra todos os dias. Também há menos poluição sonora, o que incentiva o descanso dos moradores. “Queremos transformar o espaço público e colocá-lo a serviço do povo. Nosso objetivo é que muita coisa aconteça onde, até agora, só havia carros”, argumentou a vice-prefeita de Ecologia, Urbanismo, Infraestrutura e Mobilidade, Janet Sanz.
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