Quarteirões percorridos a pé, vencendo distâncias curtas entre moradia e comércio, ruas que possibilitam encontros e uma praça como centro de convívio representam a configuração de um bairro típico da maioria das cidades dos séculos passados.

Quarteirões percorridos a pé, vencendo distâncias curtas entre moradia e comércio, ruas que possibilitam encontros e uma praça como centro de convívio representam a configuração de um bairro típico da maioria das cidades dos séculos passados. O planejamento dos espaços a partir da escala humana, como prega o chamado Novo Urbanismo, é o resgate dessa fórmula para criação de lugares, na promoção da vida em comunidade e, em consequência, do bem-estar das pessoas e da prosperidade dos negócios locais.

“Vamos pensar as cidades como eram pensadas antigamente, com uma praça e o comércio no centrinho. Vamos fazer as pessoas voltarem a se encontrar. Nós nos apaixonamos por esse conceito e achamos que tinha tudo a ver com o futuro da Pedra Branca”, afirma o empresário Marcelo Gomes, presidente da Cidade Pedra Branca, bairro-cidade que vem sendo construído há 20 anos em Palhoça, na Grande Florianópolis (SC).

O movimento do Novo Urbanismo tem sua origem no início dos anos 1990, capitaneado por arquitetos, engenheiros e planejadores urbanos norte-americanos. Eles estavam descontentes com o modelo de desenvolvimento que estava sendo reproduzido em muitas cidades, com áreas residenciais dispersas, distantes dos centros urbanos, tornando as pessoas dependentes dos carros para percorrerem as grandes distâncias entre os espaços de morar, trabalhar, estudar e de lazer.

Entre os pioneiros do movimento estão arquitetos como Peter Calthorpe, Andres Duany, Elizabeth Moule, Elizabeth Plater-Zyberk, Stefanos Polyzoides e Daniel Salomon, cofundadores do Congresso para o Novo Urbanismo (CNU), organização sem fins econômicos, com sede em Washington, D.C, Estados Unidos, fundada em 1993. “O Novo Urbanismo é um movimento de design em direção a comunidades completas, compactas e conectadas, mas é também um gerador de ideias que transformam a paisagem”, resume o escritor norte-americano Robert Steuteville no livro 25 Grandes Ideias de Novo Urbanismo, editado pelo CNU.

Robert Steuteville é signatário da Carta do Novo Urbanismo, produzida na primeira edição do CNU, em Alexandria, Virgínia, em 1993, e revelada no New Urban News, publicação lançada por ele em 1996. A Carta do Novo Urbanismo é considerada o marco do movimento, a partir do manifesto que destaca que “o Congresso para o Novo Urbanismo vê o desinvestimento nos centros urbanos, a proliferação de expansões urbanas sem sentido, o aumento da segregação por raça ou nível de rendimento, a degradação ambiental, a perda de solos agrícolas e espaços naturais e a erosão do patrimônio edificado como um único desafio para o futuro das comunidades.”. A Carta traz uma relação de 27 princípios elaborados para orientar políticas públicas, práticas de desenvolvimento, planejamento e desenho urbano, subdivididos em “A região: metrópole, cidade e vila”, “A vizinhança, o bairro e o corredor” e “O quarteirão, a rua e o edifício”.

Referência e inspiração  

O Novo Urbanismo conquistou adeptos mundo afora nos anos seguintes. As práticas passaram a ser difundidas especialmente pela atuação da DPZ, escritório comandado por Andres Duany and Elizabeth Plater-Zyberk, cofundadores do CNU, tornando-se reconhecido internacionalmente na defesa do crescimento urbano por meio de comunidades compactas, voltadas para pedestre e transit-friendly, ou seja, ao uso equilibrado e compartilhado das ruas por pessoas, carros, bicicletas e veículos de transporte coletivo.

Foi Andres Duany que inspirou a consolidação da Cidade Criativa Pedra Branca como um dos maiores exemplos de Novo Urbanismo do país, premiado e reconhecido internacionalmente por seu planejamento urbano sustentável. A palestra ministrada por ele sobre Novo Urbanismo e sobre viver, trabalhar, estudar e se divertir no mesmo lugar no Greenbuild International Conference & Expo, realizado pelo US Green Building Council (USGBC) em Atlanta, Estados Unidos, em 2005, empolgou os empreendedores catarinenses, que estavam na plateia. Eles haviam iniciado a Cidade Pedra Branca em 1999, a partir da transformação da área de fazenda familiar, com 250 hectares, em um loteamento residencial que, a partir do Novo Urbanismo, tornou-se um bairro-cidade que hoje registra uma população de 12 mil moradores, 8 mil trabalhadores e 7 mil estudantes.

“Havia uma parte do empreendimento a ser desenvolvida e decidimos buscar o que havia de mais moderno, considerando o que poderíamos fazer de diferente. E, então, conhecemos o ‘Novo Urbanismo’”, conta Marcelo Gomes. Segundo o empresário, eles ficaram “apaixonados” pelo conceito do Novo Urbanismo naquela ocasião. “Ficamos, nos anos seguintes, estudando como fazer esse projeto, que viria a se tornar pioneiro no Brasil”, diz. Naquele mesmo ano, decidiram contratar a DPZ Latin America (atual Keystone), coordenada pelos arquitetos argentinos Maximo Rumis e Marcela Leiva, que comandaram as charretes (método de planejamento de projetos dinâmico e colaborativo) realizadas com alguns dos principais escritórios de arquitetura locais contratados para a reformulação do masterplan do empreendimento. Outros grandes nomes também prestaram consultoria: o brasileiro Jaime Lerner Arquitetos e o escritório dinamarquês Gehl Architects.

Os pilares

As premissas do planejamento urbano da Cidade Pedra Branca foram estabelecidas a partir de cinco pilares que nortearam, e ainda norteiam, todo o desenvolvimento dos trabalhos, batizados de 5Cs: Completa; Compacta; Conectada; Complexa e com Convivência. “A Cidade Pedra Branca foi planejada para acolher, num futuro próximo, 40 mil moradores, 30 mil trabalhadores e 10 mil estudantes, de forma equilibrada. A quantidade de quadras planejadas e de empreendimentos seguiu cuidadoso planejamento, com o mote de possibilitar morar, trabalhar, estudar e se divertir ao alcance uma caminhada”, explica Marcelo.

Neste planejamento contínuo, foi criada a primeira rua compartilhada do país, inaugurada em 2013, sendo a rua principal da nova centralidade de bairro, que tem o pedestre como protagonista. “O conceito de ‘Cidade para Pessoas’ sempre esteve muito forte em nosso discurso. Sempre entendemos como é importante ter uma praça, um banco”, reforça Marcelo, argumentando que, quanto mais as pessoas usarem o espaço urbano, mais segurança ele proporcionará.

Daí a importância da diversidade de usos, com universidade, escolas, imóveis residenciais e comerciais, oferecendo um variado mix de produtos e serviços para compras e lazer, em espaços de uso público atraentes, estimulando a vida urbana durante o dia e a noite, e investindo em uma infraestrutura de segurança. “Isso é uma cidade criativa”, celebra. Para ele, a densidade urbana é que faz a diferença. “A grande quantidade de pessoas em um mesmo lugar faz com que elas ‘se esbarrem’ e conversem entre si. Se as pessoas param de se encontrar, ficam isoladas e perdem, também, o contato com a realidade”, reforça.

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