Estacionamentos inteligentes

Estacionamentos inteligentes: A precificação adequada dos estacionamentos é uma grande aliada na redução dos congestionamentos

Carros parados em fila dupla ou passando pela mesma quadra várias vezes em busca de uma vaga na rua, congestionamentos e emissões de gases de efeito estufa. Esses são alguns dos problemas que levam grandes municípios a repensarem a forma como utilizam os meios-fios para o estacionamento de veículos e a precificação desse serviço.

Com tecnologia e inteligência artificial, é possível criar políticas que otimizem a ocupação dos espaços disponíveis nas vias, incentivar o uso do transporte coletivo, reduzir o impacto ambiental, com menos pessoas circulando individualmente em seus automóveis, e ainda elevar a arrecadação dos governos locais. São Francisco, na Califórnia (EUA), é pioneira na implementação de um sistema de monitoramento virtual e de cobrança de estacionamento por demanda, através do qual o valor da tarifa aumenta de acordo com a procura por uma determinada região.

O SFPark da cidade californiana funciona por meio de sensores magnéticos sem fio instalados sob mais de 8 mil vagas para carros nas ruas, em cerca de 12,5 mil unidades oferecidas em garagens da prefeitura e em parquímetros nas vias que enviam dados em tempo real sobre a utilização das áreas públicas. As informações são concentradas, em um primeiro momento, na rede mais próxima e, em seguida, são encaminhadas para uma central, que analisa onde estão os lugares desocupados a cada momento, como explica a matéria do Mobilize. Os dados também são empregados para reajustar a tarifa a partir da maior ou menor demanda.

O estacionamento inteligente de São Francisco, que é administrado pelo departamento que supervisiona o trânsito e os diversos modais do munícipio – o SFMTA –, iniciou o seu projeto-piloto em 2011 e, em 2017, colocou os equipamentos de medição nos 28 mil parquímetros existentes nas ruas da localidade. Além de qualificar o trânsito, diminuindo os engarrafamentos, a iniciativa da prefeitura visa facilitar a tarefa dos motoristas de achar uma vaga para seus veículos. Sobre o mecanismo de precificação, ele opera por “Demand-Responsive Pricing” (do inglês, preço que responde à demanda), podendo variar de 0,25 a 8 dólares por hora – conforme informado no site do SFMTA –, dependendo do horário, dia da semana e localização.

Enquanto as informações sobre as vias com lugares livres são atualizadas constantemente e podem ser acessadas pelo site SFPark.ong, aplicativo ou ligando para a central do serviço, detalha a reportagem do Mobilize, os valores são ajustados nos parquímetros para cima ou para baixo a cada três meses, sendo o acréscimo de 0,25 dólares de cada vez, indica a SFMTA. Essa política de precificação, defende o Mobilize, desestimula os cidadãos a optarem pelos automóveis quando a procura por vagas em uma região está muito alta, promovendo o uso de outros meios de locomoção, como caminhar, pedalar ou o transporte público. “Assim, pelo mesmo princípio do pedágio urbano, a solução acaba contribuindo também para a mobilidade sustentável”, afirma o texto.

Outra vantagem do sistema é que o pagamento nos parquímetros pode ser feito em dinheiro, cartão de débito e de crédito ou pelo telefone. Além disso, o serviço avisa por notificação quando está terminando o tempo pago para ficar no estacionamento, agilizando o processo. A matéria do Mobilize observa ainda que, em 2014, ano em que a fase de testes foi encerrada e as novas regras passaram a valer, o governo de São Francisco registou um crescimento na arrecadação e uma queda nas multas de trânsito. Sobre os valores pagos pelos cidadãos, em fevereiro de 2020, aproximadamente 2% dos espaços medidos chegavam a 8 dólares/hora em alguns momentos da semana, relata o órgão público.

Inteligência artificial ajuda a encontrar estacionamento e recompensa quem não dirige até o trabalho em Munique

As cidades inteligentes estão se transformando uma realidade a cada dia com o desenvolvimento de novas soluções para antigos problemas urbanos. No Centro de Munique, Alemanha, um empreendimento comercial está testando, desde 2020, um programa que utiliza inteligência artificial para avisar por meio de um aplicativo quando a garagem está lotada, elevar o preço da tarifa cobrada de acordo com a demanda e sugerir outros estacionamentos, como detalha reportagem da revista Época.

Elaborado pela Fetch.ai, empresa do Reino Unido, em parceria com a companhia de dados Datarella, de Munique, o projeto prevê também a recompensa dos usuários que decidirem não usar o carro para se deslocar até o complexo em alguns dias da semana. A matéria enfatiza que quando o valor do estacionamento “reflete sua relativa escassez, ele pode sinalizar para as pessoas que, se escolherem dirigir, isso vai custar mais caro”. Ao terem poucas opções de vagas gratuitas, menos indivíduos utilizam o seu veículo, reduzindo os congestionamentos e levando o tráfego para áreas com menor movimento. “Isso deve tornar o gerenciamento do trânsito mais eficiente”, argumenta o CEO da Fetch.ai, Humayun Sheikh.

O professor de planejamento urbano da Universidade da Califórnia em Los Angeles Donald Shoup e outros pesquisadores do setor demonstraram que os estacionamentos públicos têm um alto custo para as cidades devido aos engarrafamentos que provocam, às emissões de gases poluentes e ao tempo dedicado para encontrar uma vaga, destaca a revista. Na reportagem, Sheikh salienta que a ampliação da experiência para todas as garagens de Munique representaria uma queda de 10% no uso dos automóveis e, consequentemente, uma redução de mais de 37 mil toneladas de emissão de gás carbônico (CO2) – o que corresponde às emissões relativas ao consumo anual de energia de em torno de 4 mil casas. Se levada para toda a Alemanha, o impacto seria de 1,7 milhão de toneladas de CO2 a menos na atmosfera por ano.

A meta para 2021 e os próximos anos é expandir o programa no município e em outras localidades do mundo, ressalta artigo do Smart Cities World. “Nosso sistema incentiva a utilização do transporte público pela comunidade através de recompensas em moeda digital ao mesmo tempo que diminui os congestionamentos”, reforça o CEO da Datarella, Michael Reuter. Os benefícios são calculados pela inteligência artificial conforme o uso da garagem do empreendimento. Cada usuário cadastrado recebe vantagens de acordo com o tempo que ele deixa de ocupar as vagas do lugar.

Experiências internacionais podem beneficiar reformulação dos estacionamentos nas ruas do Brasil

Planejar e aperfeiçoar as garagens implementadas próximas às estações de ônibus, metrôs e trens nos Centros das cidades é uma das mudanças apontadas pela matéria do Mobilize para melhorar o sistema de estacionamento público nos municípios brasileiros. Além disso, a reportagem frisa que um programa parecido com o de São Francisco (EUA) pode ser adotado por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras capitais do País. “Seria um incentivo à continuidade das viagens por transporte coletivo”, disse o planejador urbano Thiago Guimarães ao Mobilize.

Com extensas áreas voltadas para vagas de veículos em regiões de intensa movimentação, rever as estratégias de oferta de espaços para estacionar nas vias, criar mecanismos inteligentes de utilização e precificação desse serviço e prever outros usos para esses lugares são algumas das possibilidades que se apresentam às prefeituras para qualificar a mobilidade e a sustentabilidade de suas localidades. O estudo “A Cidade Estacionada – uma análise sobre a gestão do meio-fio e da Zona Azul de São Paulo” apurou que a capital paulista tem cerca de 5 milhões de metros quadrados de área pública destinada para “estocar carros privados”, o equivalente a três parques do tamanho do Ibirapuera.

Desenvolvido pelo economista e Head de Policy da empresa imobiliária Loft, João Melhado, o levantamento de 2020 descreve que somente o Zona Azul, o primeiro estacionamento rotativo pago do Brasil, inaugurado em 1975, possui 43.940 vagas espalhadas por em torno 500 mil metros quadrados, que se somam aos espaços gratuitos – estimados em aproximadamente 400 mil locais para deixar os automóveis. Ele defende que, ao invés de dispor essa gigantesca extensão do território para o transporte individual, ela deveria ser empregada para fins coletivos, como uma “calçada melhor, uma faixa exclusiva para ônibus ou bicicleta ou para um parklet” para beneficiar a todos os moradores e não apenas aos motoristas.

Em sua pesquisa, Melhado comenta também que São Paulo “cobra pouco e mal pelo uso privado da área pública”. A má precificação tem custos que vão além dos monetários e se refletem na piora do trânsito, no aumento da poluição do ar e dos acidentes e no estímulo à utilização de carros ao invés de encaminhar os recursos arrecadados para aprimorar e diversificar o sistema de transporte coletivo. O autor exemplifica ao mostrar que, enquanto a tarifa de ônibus na cidade aumentou cinco vezes entre 2014 e 2020, o valor da Zona Azul permanece o mesmo nesse período. Dessa maneira, ressalta ele, a hora do estacionamento na rua é mais barata que uma viagem de ida e volta no transporte público e do que deixar o veículo em uma garagem privada. No estudo, Melhado avaliou o valor de 650 estacionamentos de diferentes regiões da capital.

Segundo ele, a cobrança adequada deveria considerar a oferta e demanda de cada via em distintos horários, como acontece em São Francisco, aperfeiçoando a circulação e diminuindo o tempo gasto pelas pessoas na procura por uma vaga. Essa medida aliada a uma fiscalização moderna, por meio de dispositivos tecnológicos, permitiria ainda arrecadar mais de R$ 300 milhões por ano – o que é três vezes mais que o registrado hoje. Contudo, para que essa modificação seja viável na capital paulista e em outras pelo País, Melhado assinala que é preciso estabelecer métricas e dados para definir as políticas de estacionamento público, analisar mais detalhadamente o uso do meio-fio e revisar a quantidade de vagas existentes atualmente, se elas são necessárias e se os espaços que ocupam não teriam um fim mais adequado para a população.

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