Bairro planejado: A impressão 3D está chegando à construção de casas no Texas, Estados Unidos
“Um bairro inteiro criado a partir da combinação de robótica, softwares inovadores e materiais tecnológicos parece até roteiro de ficção científica, mas é uma realidade que começa a ser posta em prática em Austin, no Texas (EUA), com a impressão 3D de 100 moradias. O projeto da maior comunidade mundial de residências erguidas a partir dessa técnica construtiva é resultado da colaboração entre as empresas Lennar e ICON e conta com design desenvolvido pelo escritório de arquitetura dinamarquês Bjarke Ingels Group (BIG). Com previsão de início dos trabalhos neste ano, as habitações térreas serão produzidas no próprio local e devem levar, cada uma, cerca de uma semana para serem concluídas, detalha a reportagem da CNN Brasil.
Os imóveis terão painéis fotovoltaicos instalados em seus telhados e diferentes espaços contemporâneos, em uma ação que deve modernizar o estilo das propriedades suburbanas norte-americanas, descreve a matéria do ArchDaily. A impressão 3D permite ainda liberdade para planejar casas “estética e fisicamente exclusivas”, agregando texturas e formas para cada ambiente, relata o texto. No entanto, as adaptações nas unidades deverão ser efetuadas dentro do conceito definido para o empreendimento que, segundo artigo do The Architect’s Newspaper, prevê construções com cantos arredondados, telhados de duas águas altas e pátios individuais.
Para colocar o bairro 3D de Austin de pé, serão utilizadas cinco impressoras robóticas Vulcan idealizadas pela ICON e que canalizam uma mistura de concreto chamada Lavacrete (também patenteada pela companhia), explica a reportagem da CNN Brasil. As máquinas podem imprimir moradias de até em torno de 280 metros quadrados e com sistemas de paredes e “materiais avançados que são mais fortes e duráveis do que os elementos de construção convencionais, resistindo a condições extremas do tempo”, agrega a matéria do ArchDaily.
As habitações seguirão os padrões do Código Internacional de Construção e terão as janelas, portas e acabamentos acrescentados pela Lennar, empresa de edificação residencial, depois da finalização das estruturas. O bairro 3D de Austin foi apontado pelo cofundador e CEO da ICON, Jason Ballard, como “um momento decisivo na história do desenvolvimento em escala comunitária”, destaca a CNN Brasil. Ballard afirmou que a técnica (em escala) oferece imóveis de “alta qualidade com mais rapidez e preços acessíveis”, além de poder mudar para melhor a maneira como comunidades inteiras são erguidas.
Apesar de não divulgar os custos da iniciativa, a ICON – que é uma companhia texana especializada em tecnologias de construção – ressaltou em comunicado que a impressão 3D é “significativamente mais barata que os métodos tradicionais de edificação”, principalmente por demandar menos mão de obra para a sua concretização, reforça a reportagem da CNN Brasil. Já o sócio do BIG, Martin Voelkle, enfatizou que as casas 3D, com os equipamentos fotovoltaicos, são um passo importante para reduzir os desperdícios que ocorrem no processo construtivo. “Bem como tornar nossas propriedades mais resilientes, sustentáveis e autossuficientes em energia”, complementou.
Os benefícios da utilização da técnica de impressão 3D de moradias abrangem ainda o menor impacto ambiental devido à diminuição das emissões de gás carbônico durante as obras. Estudo efetuado recentemente em Cingapura mostrou que um banheiro erguido usando impressão 3D produzia em torno de 86% menos CO2 do que a mesma unidade feita por meios convencionais, de acordo com a CNN Brasil, além de ser 25% mais barato. A matéria traz também a informação que as impressoras 3D, por terem a capacidade de construir sem cofragem (moldes de concreto em que o cimento é normalmente despejado), podem reduzir expressivamente o emprego desse material. O cimento, salienta a CNN Brasil, é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gás carbônico anualmente.
Ajudar a diminuir a escassez de residências nos Estados Unidos é outra vantagem do sistema citada pelo CEO da ICON, Jason Ballard. “O país enfrenta um déficit de aproximadamente 5 milhões de novas habitações, então há uma profunda necessidade de aumentar rapidamente a oferta sem comprometer a qualidade, beleza ou sustentabilidade e essa é exatamente a força da nossa tecnologia”, disse à CNN Brasil. Os imóveis 3D podem ser uma alternativa eficaz e economicamente mais viável para atender agilmente a emergências, como desastres naturais e pandemias, como a da Covid-19. Por outro lado, críticos à técnica frisam que a impressão 3D de concreto “depende ainda de um produto não renovável e que a segurança e a estabilidade das estruturas não são abordadas especificamente pelos códigos de construção existentes”.
Tecnologia permite criar de moradias sociais a soluções espaciais
Essa não é a primeira experiência da ICON com edificações impressas em 3D. Em agosto de 2021, a companhia entregou para o Departamento Militar do Texas a maior estrutura realizada na América do Norte com essa técnica: um quartel para 72 pessoas, informa o The Architect’s Newspaper. Além disso, a empresa vem utilizando essa tecnologia desde 2018 para erguer casas sociais ou subsidiadas no México e em cidades texanas. Em Nacajuca (na região de Tabasco, México), por meio de uma parceria com a New Story – uma organização sem fins lucrativos de São Francisco (Califórnia) que atua na área de habitação – a ICON está imprimindo 50 residências com Lavacrete.
“A manufatura aditiva (impressão 3D) tem o potencial de revolucionar o ambiente construído à medida que é adotada pela indústria em escala”, declarou Martin Voelkle, sócio da BIG, ao The Architect’s Newspaper. A CNN Brasil acrescenta que a ICON possui ainda um projeto com a Nasa para criar uma base lunar feita com materiais de construção de poeira da lua. Nesse segmento, a companhia do Texas, em conjunto com o BIG, está também elaborando o protótipo de um habitat impresso em 3D para Marte.
No ano passado, a ICON concluiu quatro imóveis em Austin (Texas), que foram idealizados pelo escritório local Logan Architecture e impressos em 3D, destaca reportagem da revista Dezeen. As propriedades térreas, duas delas com dois quartos e as demais com quatro dormitórios, foram produzidas com as impressoras Vulcan e entregues em março de 2021. Cada uma das casas levou de cinco a sete dias para serem impressas, aponta a publicação. Com tamanhos e desenhos diversos, as moradias contam com os mesmos recursos externos e internos.
Apesar da ICON não divulgar o preço dessas residências e nem das que serão edificadas na maior comunidade 3D do mundo, a CNN Brasil apurou que, no início de 2021, uma unidade de em torno de 130 metros quadrados em Riverhead (Nova York) foi avaliada em 299 mil dólares (mais de R$ 1,7 milhão em janeiro de 2022). Já a Palari Group, mais uma empresa norte-americana de impressão em 3D, anunciou que pretende construir 15 habitações perto de Palm Springs (Califórnia), com valores a partir de 595 mil dólares para casas com três quartos (cerca de R$ 3,4 milhões).
Com diferentes materiais, imóveis em 3D mostram novos caminhos para o setor imobiliário
Além da impressão 3D de casas com uma mistura de concreto, como a que vem sendo usada pela ICON, outros itens têm sido empregados no desenvolvimento de propriedades com essa tecnologia, como bioplásticos, argila e resíduos da produção de arroz, como revela matéria da Dezeen. A técnica abre novas possibilidades para o segmento construtivo, agregando processos mais sustentáveis e econômicos e auxiliando na redução do desperdício de materiais e recursos naturais nos canteiros de obras. Diversos países, além dos Estados Unidos, já estão investindo em iniciativas nesse sentido, como a Holanda, Itália e Bélgica.
Com oito metros quadrados, uma microcabana de bioplástico com paredes geométricas foi impressa em 3D em Amsterdam (Holanda). Concebido pelo escritório de arquitetura holandês DUS Architectes, o ambiente possui uma pequena área para dormir, com uma cama que pode ser guardada quando não estiver sendo usada, assinala outro artigo da Dezeen. Do lado de fora da cabana, um banheiro foi erguido com o mesmo sistema. Já em Massa Lombarda (Itália), a equipe do Mario Cucinella Architects em parceria com a companhia Wasp – especializada na tecnologia 3D – construiu a Tecla, uma residência de 60 metros quadrados com duas cúpulas conectadas e uma grande claraboia que possibilita a entrada de luz no espaço.
O estúdio mesclou a técnica de impressão com argila local para fazer a moradia e, para isso, usou um equipamento 3D que pode “completar a estrutura em 200 horas, consumindo apenas seis quilowatts de energia”, ressalta a revista. Outro exemplo italiano é a Gaia, também fabricada pela Wasp em Massa Lombarda. A habitação de 30 metros quadrados foi impressa com uma mistura de “solo do lugar, palha picada e casca de arroz”, conforme a Dezeen. Para a empresa, os resíduos agrícolas podem se “tornar um importante recurso para a construção e impressão 3D”.
Por sua vez, o centro de sustentabilidade e inovação Kamp C edificou um imóvel em Westerlo (Bélgica) que é considerado o primeiro a ser impresso em 3D em uma peça única. Com dois andares, oito metros de altura e 90 metros quadrados de área útil, a casa foi produzida na “maior impressora 3D de concreto da Europa” em três semanas, como enfatiza publicação da Dezeen. Projetada para ser uma propriedade de baixo consumo de energia, o ambiente tem painéis solares e aquecimento no teto.
No Brasil, a primeira residência impressa em 3D foi idealizada pela estudante do curso de Engenharia Elétrica da UniCEUB, em Brasília, Juliana de Almeida Martinelli, e construída, em 48 horas, em Natal (Rio Grande do Norte). Os custos para a edificação da moradia de 66 metros quadrados foram reduzidos com a utilização da tecnologia, ficando em aproximadamente R$ 30,00 o metro quadrado, de acordo com matéria da IstoÉ Dinheiro. Com os acabamentos, o valor total da obra foi calculado em torno de R$ 50,00 o metro quadrado. A impressora criada por Juliana, que é CEO da startup InovaHouse3D, fabrica placas de concreto com preços mais acessíveis e que facilitam a montagem das habitações.
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