Qual a importância das e-bikes para a mobilidade urbana? As vendas das bicicletas elétricas vêm crescendo ano após ano no Brasil, mas ainda faltam incentivos para que esse meio de locomoção seja valorizado.
Peças importantes para o futuro da mobilidade urbana, as bicicletas elétricas, ou e-bikes, vem ganhando espaço nas cidades como uma opção mais segura e saudável de locomoção. Entre janeiro e outubro do ano passado, foram vendidas mais de 35,7 mil unidades desse veículo no Brasil, superando as 32,1 mil bicicletas elétricas comercializadas em 2020 – um recorde até então, conforme dados da Aliança Bike divulgados pelo g1 em dezembro. Ainda sem as informações referentes aos últimos dois meses de 2021, a entidade estimava fechar o ano com um aumento de 34% em relação a 2020, totalizando 43 mil e-bikes novas em circulação.
As razões para esse crescimento são muitas e passam pelos benefícios oferecidos pelas bicicletas elétricas, como a facilidade de percorrer longos trajetos sem cansar ou suar tanto – uma das principais vantagens sobre os modelos convencionais destacada por seus adeptos – e o pouco lugar que ocupam nas ruas para estacionar. A questão da sustentabilidade também influencia a escolha pelo transporte alternativo, aponta matéria do Tecmundo. Ao trocarem o carro pela e-bike, as pessoas reduzem o consumo individual de combustível fóssil, diminuindo suas pegadas de carbono e contribuindo para o combate ao aquecimento global.
Mas, mais do que as melhorias ambientais, as bicicletas elétricas, assim como os patinetes, podem auxiliar os cidadãos a acessarem novas oportunidades de trabalho e a se conectarem a serviços, instituições de ensino e a programas de lazer. Além disso, por serem híbridas, ou seja, funcionam também por meio da propulsão das pedaladas, além de usar um motor para ajudar os ciclistas em seus deslocamentos, as e-bikes são um meio para que muitos indivíduos pratiquem uma atividade física e minimizem os efeitos do sedentarismo na saúde, prevenindo doenças. É a chamada mobilidade ativa.
O equipamento deve ter um motor de até 350 watts de potência e não pode ser capaz de ultrapassar a velocidade de 25 quilômetros por hora para ser considerado uma bicicleta elétrica, detalha o Tecmundo. Apesar da demanda em alta e da expectativa de que, no final da década, a venda de e-bikes seja superior a todo o comércio de veículos automotivos na Europa (isso porque, mesmo sendo elétricos, os carros ainda geram problemas, como congestionamentos), o preço continua sendo uma barreira para a sua disseminação. No Brasil, os valores podem variar de R$ 3 mil até R$ 40 mil (dado de janeiro de 2022) devido aos custos de importação das peças ou dos produtos prontos para entrega, salienta a reportagem.
“Para se ter uma ideia, ao trazer uma bike elétrica inteira paga-se 18% de imposto de importação”, afirmou o diretor executivo da Aliança Bike, Daniel Guth ao g1. Segundo ele, as taxas de compra no exterior dos componentes separados são menores: 14,4% para alguns itens e 0% para outros que não são fabricados no País, como os câmbios. “Para quem tem volume (de comercialização), montar (as bicicletas elétricas) aqui no Brasil vai se tornando cada dia mais vantajoso”, assinalou. A produção nacional, que correspondia a 45,5% do total de vendas em 2016, subiu para 60% em 2021, acrescenta a matéria. E um dos motivos para isso foi o investimento de marcas consolidadas nesse mercado e a redução de tributos de diferentes elementos que compõem as e-bikes.
O maior entendimento do poder público sobre a importância das bicicletas, convencionais e elétricas, para o aprimoramento da mobilidade no País e o apoio por meio de políticas que estimulem o setor e a utilização desse transporte são defendidas pela Aliança Bike. A entidade apresentou, em 2020, um conjunto de dez ações práticas para desenvolver o mercado, melhorar a forma como as pessoas se locomovem nas cidades e diminuir o trânsito e o tempo de deslocamento. As propostas abrangem desde a ampliação da rede de ciclovias, ciclofaixas, compartilhamento de bikes e bicicletários permanentes (ter onde estacionar os equipamentos e os roubos são outras dificuldades enfrentadas pelos ciclistas) até a redução da carga tributária para se disponibilizar bicicletas mais baratas e qualificadas.
A criação de uma linha de crédito nos bancos públicos para financiar a compra desses veículos de duas rodas e a distribuição para a população de um voucher de R$ 100,00 para bancar a revisão e o conserto das bikes tradicionais ou elétricas são outras medidas sugeridas. O fortalecimento do cicloturismo e o reconhecimento, por lei, das bicicletas como meio de transporte para o trabalho, incluindo a manutenção do vale-transporte pelo uso das bikes, também foram abordados no documento. Com mais incentivos e infraestrutura, um número maior de cidadãos poderia optar por essa maneira de circulação em suas rotinas.
“Eu estou convicto de que as e-bikes ainda vão desempenhar um papel muito grande na mobilidade urbana. A bicicleta tem suas limitações e o carro, ainda que seja elétrico, continua sendo um automóvel – e, em termos de cidade – seu uso precisa ser desestimulado. Precisamos, cada vez mais, incentivar o transporte público e a mobilidade ativa”, afirma o empresário Felipe Cavalcante, diretor da MATX Academy, coordenador do Movimento Somos Cidade.
Programas incluem bicicletas elétricas em iniciativas de mobilidade básica universal nos Estados Unidos
A partir do subsídio de viagens de e-bikes, scooters e patinetes elétricos e de ônibus, diversos municípios norte-americanos lançaram projetos-pilotos para facilitar o acesso da população mais vulnerável a empregos e à educação com a perspectiva de oferecer novas oportunidades e girar a economia, informa reportagem da Bloomberg. Em Bakersfield (Califórnia), onde cerca de 18,5 mil indivíduos entre os 16 e 24 anos não estavam na escola ou trabalhando em 2019 – situação agravada pela pandemia –, uma ação experimental selecionou, no final de 2021, 100 jovens moradores para participarem de um estudo de um ano sobre como a gratuidade no transporte afeta suas vidas.
Esse é um dos vários programas em andamento nos Estados Unidos que avaliam o conceito de mobilidade básica universal. Em Oakland (Califórnia), 500 residentes receberam, em novembro passado, um cartão de débito pré-pago de 300 dólares para ser usado nos ônibus, trens, metrô e serviços compartilhados de locomoção, como as bicicletas elétricas, exemplifica a Bloomberg. Pittsburgh (Pensilvânia) e Los Angeles (Califórnia) também estão com iniciativas semelhantes. Em comum, essas cidades buscam entender como ter um “nível mínimo de transporte garantido pode mudar os resultados para aqueles que anteriormente não o tinham”. No país, as famílias pobres gastam muito mais, percentualmente, de suas rendas com deslocamento do que as ricas, complementa a matéria. Isso porque, em geral, elas vivem longe dos seus empregos.
A pesquisadora de psicologia ambiental da Universidade da Califórnia em Davis e supervisora dos projetos no estado, Angela Sanguinetti, comenta que ter o transporte assegurado impacta na sensação geral de segurança das pessoas. “Se você não tem como chegar de forma confiável aos lugares que precisa ir, isso pode causar muita ansiedade”, revela. Em Bakersfield, os selecionados pelo centro de recursos Dream Center vão receber passes gratuitos para as linhas de ônibus local, assim como cinco viagens por dia nas e-bikes ou scooters compartilhadas da empresa Spin. A medida ajudará ainda o governo municipal a entender o papel que as despesas com trajetos têm no cotidiano dos habitantes e se a retirada desse obstáculo permite que os jovens tenham mais sucesso.
Esse modelo pode trazer vantagens também para empregadores da cidade que lutam contra uma “crise nacional de contratação”, se ficar comprovado que a ação aproxima os cidadãos das vagas de trabalho. Disponibilizar descontos para a utilização de diferentes serviços de transporte é algo em debate nos Estados Unidos há anos, mas que se tornou uma realidade apenas com a criação e desenvolvimento dos aplicativos de mobilidade, reforça o professor de planejamento urbano da Universidade Rutgers, Michael Smart em entrevista para a Bloomberg. No entanto, ele faz uma ressalva: é preciso considerar a relevância que o carro continua tendo em determinadas comunidades, como a de Bakersfield.
Com uma estrutura de ciclovias ainda em expansão, transporte público limitado e menos de 1% das famílias deslocando-se a pé ou de bicicleta para o emprego, Bakersfield deveria considerar a inclusão de subsídios para quem circula em apps como o Uber ou o Lyft, enfatiza a reportagem. “Parte do motivo pelo qual esse (estudo) é um piloto é para determinar a utilidade desses serviços e ver quais são as lacunas e necessidades que permanecem. Vamos ver até onde isso nos leva e o que poderia ser enriquecido se o município adotasse algo permanente”, descreve Angela sobre como funciona o programa na localidade.
Segmento de e-bikes para entrega de cargas registra crescimento
Não foi somente o setor de bicicletas elétricas para transporte pessoal, passeio ou esporte que viu a demanda aumentar, as e-bikes de carga também tiveram o seu mercado expandido com a pandemia. No Reino Unido, por exemplo, desde as primeiras restrições impostas pelo coronavírus, o número de companhias que optaram fazer suas entregas dessa maneira não para de crescer, relata matéria do The Guardian. Em janeiro deste ano, eram cerca de 450 empresas e comerciantes independentes que utilizavam essas e-bikes para levar produtos até os clientes. Uma delas é a The Bike Drop, que atua na região do distrito de Stroud (Inglaterra) e iniciou suas atividades para atender às necessidades que surgiam com o avanço dos casos de Covid-19. “O empreendimento evoluiu rapidamente: logo tínhamos 13 funcionários entregando itens para 36 companhias locais”, contou o diretor da empresa, Harry McKeown.
Atualmente, a frota de bicicletas elétricas da The Bike Drop já fez mais de 6,5 mil coletas e entregas individuais para empresas da área, percorreu mais de 10 mil quilômetros e economizou aproximadamente 2,3 mil quilos de gás carbônico, ressalta o jornal. A Pedal Me, que transporta pacotes e pessoas no Centro de Londres, também viu os negócios dobrarem desde o começo da pandemia. Já o Zedify, sediada na capital inglesa, instalou dez mini hubs em pontos abandonados fora das cidades onde está presente para fazer milhares de entregas por meio das e-bikes de carga com emissão zero de gases de efeito estufa. “Nossos hubs significam que, em vez de um monte de vans entrando nos municípios todos os dias, você tem um punhado de bicicletas elétricas circulando”, ponderou Rob King, da Zedify.
Lugares mais remotos, como os vales de West Yorkshire (Inglaterra), não ficaram de fora desse movimento de ampliação das entregas feitas por e-bikes de carga. A Cargodale, que cobre essa região, possui hoje uma equipe de 15 pessoas que atende a 100 companhias locais. Apesar de seus benefícios, as bicicletas elétricas trazem desafios para as administrações públicas, como a garantia da segurança dos usuários e da população em geral, agrega reportagem do New York Times. Conforme o jornal, de janeiro até outubro de 2021, 17 cidadãos morreram enquanto dirigiram veículos elétricos de mobilidade (incluindo patinetes e scooters) no município de Nova York.
Pedestres e ciclistas reclamam que pessoas estão usando as e-bikes nas calçadas, não respeitam os sinais vermelhos, andam em alta velocidade e no sentido errado das ruas. A matéria informa ainda que as autoridades locais e estaduais vêm se esforçando para acompanhar o rápido incremento da mobilidade e que as bicicletas e scooters elétricas só se tornaram legais nas vias de Nova York em 2020, apesar de entregadores já as usarem há muito tempo. Ciclovias mais protegidas, campanhas educativas e monitoramento de perto do primeiro programa-piloto de compartilhamento de e-scooters no Bronx são algumas das soluções em prática para resolver essa questão, destaca o jornal.
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