Singapura

Com pouco território e uma grande população, a cidade-Estado na Ásia colocou em prática estratégias urbanísticas para reduzir os impactos do seu rápido crescimento na sustentabilidade e qualidade de vida dos moradores e garantir habitação e contato com ambientes naturais.

Mais conhecida por sua paisagem marcada por arranha-céus e as gigantescas e futurísticas árvores do Gardens by the Bay, Singapura busca há anos se estabelecer como uma referência na combinação de planejamento urbano com natureza. Com uma área de pouco mais de 700 quilômetros quadrados e uma população estimada em mais de 5,7 milhões de residentes, a cidade-Estado asiática, que é composta por diversas ilhas, tem a terceira maior densidade demográfica do mundo, ficando atrás apenas de Macau e de Mônaco, segundo dados do Index Mundi.

Singapura, assim como outros países, enfrenta as dificuldades impostas pelo desenvolvimento acelerado e os seus reflexos negativos no meio ambiente e no bem-estar da sociedade, como a poluição do ar e da água, e pela necessidade de erguer imóveis para um número de habitantes em expansão em um território limitado. Nesse sentido, a região vem se verticalizando e tentando recuperar os espaços verdes e a vegetação que foi desmatada desde a colonização pelos britânicos, em 1819, como detalha reportagem da rede de televisão Euronews.

Ainda conforme a matéria, dois anos depois da independência de Singapura, em 1967, o governo nacional adotou políticas para tornar a nação uma “cidade em um jardim”, destinando terras para a formação de reservas naturais. Entre as medidas para melhorar a qualidade do ar e aumentar os pontos verdes, em 2009, foi elaborado pelo Urban Redevelopment Authority (URA), órgão responsável pelo planejamento urbano, o Programa Paisagismo para Espaços Urbanos e Arranha-céus (LUSH, na sigla em inglês). A iniciativa estimula a introdução de mais vegetação em diferentes tipos de empreendimentos verticalizados, seja através da instalação de telhados verdes, jardins escalonados ou paredes com plantas.

Em 2014, o projeto foi atualizado para abranger mais formatos de desenvolvimentos e áreas geográficas e, em 2017, ocorreu a última revisão, que trouxe alterações nas regras de ocupação do solo para incentivar mais o uso dos telhados e coberturas dos prédios para a agricultura urbana e para outros fins sustentáveis, como jardins comunitários ou painéis solares. De acordo com informações do URA, atualmente, dois em cada três novos complexos residenciais e um em dois edifícios de escritórios, shopping centers e hotéis contam com algum dos benefícios proporcionados pelas normas do LUSH, como contabilizar a vegetação vertical e as coberturas verdes extensas para os requisitos de Área de Substituição da Paisagem.

Eles podem representar até 10% das condições gerais de Substituição da Paisagem (como uma porcentagem da área do local), descreve o órgão governamental em sua página na Internet. Além disso, a vegetação vertical e/ou as coberturas verdes devem ser “bem planejadas, com paisagismo exuberante e serem integradas à forma geral e ao tratamento arquitetônico do prédio”. Ao aliar mais construções à natureza, Singapura procura também reforçar a sua identidade como “Cidade em um Jardim” e deixar no passado sua imagem de torres cinzas e índices ambientais negativos.

Os resultados dessas ações já são percebidos no aprimoramento da biodiversidade, na redução da poluição do ar e das ilhas de calor registradas na região e na qualificação da gestão da água, aponta reportagem do ArchDaily. Para incluir os cidadãos do país e motivá-los a participar da transformação sustentável de Singapura, em 2021, o governo lançou o Plano Verde 2030 que prevê, entre outras estratégias, a reserva de mais de 50% do território nacional para parques naturais, que estarão localizados a uma caminhada de até dez minutos de uma moradia, explica a matéria. Outra meta do programa é plantar mais de um milhão de árvores em toda a cidade para absorver mais CO2, permitindo que a população aproveite lugares com ar limpo e sombra fresca.

A importância da conexão com a natureza para a saúde das pessoas é reconhecida pelas autoridades de Singapura que possui, ainda, um Conselho de Parques Nacionais para auxiliar no objetivo de deixar a região mais sustentável, habitável e preparada para lidar com as mudanças climáticas, ressalta o ArchDaily. A entidade é responsável por administrar mais de 3,5 mil programas educacionais em vários espaços verdes, o que é visto como fundamental para que as comunidades vivam mais experiências junto à natureza e para promover o bem-estar mental.

Uma cidade-Estado biofílica há quase uma década

As distintas medidas realizadas ao longo dos anos pelo governo de Singapura para recuperar os ambientes verdes e revitalizar de maneira inovadora a nação, que é um dos mais importantes centros financeiros do mundo, fizeram com que a área ficasse conhecida como uma cidade biofílica. A palavra, relata a reportagem da Euronews, significa amor pela natureza ou por aquilo que é natural e vem do grego: bio (vida) e philia (que pode ser traduzida como amizade ou amor). Desde 2013, o país asiático é membro da organização Biophilic Cities, que atua em parceria com as localidades para manter suas biodiversidades.

A missão da entidade, segundo seu site, é firmar parcerias com municípios, universidades e defensores das causas ambientais para incentivar, através de uma rede global, iniciativas para desenvolver regiões urbanas que conservem seus espaços naturais levando em consideração suas características e culturas. Integram o grupo lugares que “reconhecem a importância do contato diário com a natureza como elemento de uma vida urbana expressiva”. Barcelona (Espanha), Austin (Texas, EUA), Costa Rica, Wellington (Nova Zelândia) e Edmonton (Canadá) são alguns exemplos de locais biofílicos.

A regeneração da biodiversidade em Singapura foi um dos motivos que a levou a ser parte dessa rede mundial, destaca a matéria. Conforme a Euronews, desde 2009, a cidade-Estado já adaptou mais de 100 edifícios com telhados verdes, jardins comestíveis (com hortas, por exemplo) e recreativos nas coberturas e paredes com vegetação. Essa modificação impactou tanto na questão da sustentabilidade como definiu uma estética única para a nação.

O design biofílico tem como objetivo principal criar um bom habitat para as pessoas no ambiente construído contemporâneo, respondendo à necessidade inerente da humanidade por conexão com a natureza, esclarece artigo do blog Archtrends. Contato esse que pode ser introduzido nos empreendimentos arquitetônicos e urbanísticos por meio do acesso e vista para espaços verdes, iluminação natural, paredes e telhados com vegetação e uso de materiais naturais e cores que acalmam. A revitalização da Marquise do Minhocão, em São Paulo (SP), o Elevado Presidente João Goulart, é um exemplo de transformação urbana baseada nos princípios da biofílica, indica o blog.

Com projeto do escritório Triptyque, a proposta para um dos lugares mais poluídos da capital paulista é dar mais vida à parte de baixo do viaduto através da instalação de jardim com plantas suspensas ao longo de todo o comprimento do Minhocão – o que poderia ajudar a filtrar 20% das emissões de CO2 dos carros – e aberturas entre as pistas para criar feixes de luz natural. O local já conta com intervenções na área superior, com pontos de convivência, paredes verdes e arte urbana em alguns prédios do entorno. De acordo com o ArchTrends, o design biofílico é uma união de elementos que vai muito além da colocação de alguns vasos de plantas, mudando as regiões urbanas e aproximando os residentes da natureza.

Empreendimentos e parques alteram paisagem de Singapura

O Gardens by the Bay é um dos espaços verdes mais famosos da cidade-Estado com suas 18 árvores gigantes feitas de concreto e metal e cobertas por vegetação. Com alturas que variam de 25 metros a 50 metros, algumas estruturas captam energia que é utilizada para iluminá-las à noite e outras coletam água que é usada para irrigar as plantas do jardim botânico com cerca de 100 hectares. No entanto, esse é apenas um dos muitos parques criados pelo governo para elevar a presença da natureza no país.

Na área central de Singapura, o Bishan-Ang Mo Kio, com projeto concebido pelo escritório alemão de arquitetura paisagística Ramboll Studio Dreiseitl, é um dos ambientes mais populares da nação. O local faz parte do Programa Active, Beautiful, Clean Waters, uma ação do Conselho Nacional de Serviços Públicos para transformar os corpos d’água da região em novos e vibrantes lugares para o lazer e interação dos moradores, além de melhorar as funções de drenagem e abastecimento de água, como assinala matéria do ArchDaily.

O grande canal de concreto que percorria o lado Sul do Bishan-Ang Mo Kio foi modificado, em 2012, para um rio natural que acompanha a borda do parque. Segundo artigo no site do Ramboll Studio Dreiseitl, essa mudança exigiu inovação, criatividade e uma engenharia cuidadosa e possibilitou que diversos animais e insetos, como libélulas, ressurgissem ao longo do curso d’água, e gerou um ponto que chama a atenção da comunidade. Foram redesenhados 62 hectares de área de parque para receber o novo sistema fluvial, assim como para acomodar três playgrounds, restaurantes, um mirante feito com paredes recicladas do antigo canal de concreto e diversos espaços verdes.

Já a renovação do complexo OUE Downtown é um exemplo de como levar a natureza para os ambientes já construídos em Singapura. Desenvolvido pelo escritório de arquitetura paisagística Shma, da Tailândia, o edifício de escritórios que fica no distrito comercial foi alterado para se tornar um empreendimento de uso misto, com soluções sustentáveis e injeções de vegetação em diferentes partes de sua estrutura. Aproveitando os benefícios das regras do LUSH, programa do Urban Redevelopment Authority (URA), órgão responsável pelo planejamento urbano da nação, o prédio adicionou mais locais verdes ao bairro e à cidade.

Entre as modificações, o OUE Downtown ganhou uma passarela frontal com um mix de espécies nativas e outras novas, plantadas ao longo do trajeto, e um estar ao ar livre, que fica no quarto andar do complexo. O espaço oferece um refúgio no meio da natureza e ainda ajuda a baixar a temperatura. As mudanças propostas envolvem também uma fazenda urbana comunitária no quinto pavimento e uma piscina cercada por plantas mistas e espreguiçadeiras que convidam os habitantes a descansar e apreciar a vista. 

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