Alternativa para a realização de viagens curtas, os carrinhos de golfe surgem como uma opção para melhorar a circulação nas cidades e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Junto com as bicicletas elétricas, patinetes e tuk-tuks, eles podem ser o caminho para diminuir o número de automóveis nas vias públicas.
Os impactos causados pelos carros nos municípios já são bem conhecidos pela população: aumento da poluição do ar, congestionamentos – pesquisa aponta que, em média, os moradores das capitais brasileiras perdem 21 dias do ano no trânsito – e maior risco de acidentes e de reflexos na saúde das pessoas. Mesmo assim, reduzir a quantidade de veículos nas ruas das localidades é uma meta que segue desafiando gestores públicos e planejadores urbanos. Uma possibilidade para reverter esse cenário que começa a despontar, especialmente nos Estados Unidos, é o uso de carros de golfe aprimorados para viagens curtas, de até dez quilômetros – que representam 60% dos percursos diários naquele país.
Esse veículo foi indicado por pesquisadores da Harvard Business School (Boston, EUA) como um “modelo verdadeiramente disruptivo para o transporte”, como assinala artigo da revista Slate. A descoberta foi feita durante estudo desenvolvido em 2015 que investigava o quão transformadores eram os automóveis da Tesla, como detalha o pesquisador visitante do Taubman Center for State and Local Government da Harvard Kennedy School, David Zipper, autor do texto da Slate. Para ele, os carrinhos de golfe – que são na maioria das vezes associados ao lazer e à riqueza – podem fornecer uma solução para passeios mais seguros, acessíveis e divertidos.
Movidos a gás ou elétricos, esse tipo de veículo pode ser um aliado na diminuição das emissões que causam o efeito estufa. Além disso, eles são mais leves e lentos que um automóvel convencional, pesando cerca de 500 quilos e alcançando uma velocidade de até 40 quilômetros por hora. O preço e o avanço tecnológico dos carrinhos de golfe, que podem ter telhado para proteger do sol e janelas para evitar o frio e a chuva, são outros motivos que têm levado a um crescimento na procura por esses modelos. Em média, eles custam em torno de 10 mil dólares (dados de 2022 – em torno de R$ 50 mil na cotação do início de dezembro deste ano) e vêm se tornando uma alternativa de segundo veículo para as famílias norte-americanas, adianta a Slate.
Por serem compactos, esses automóveis ocupam menos espaço nas vias públicas e são mais fáceis de estacionar, salienta matéria da revista Fast Company. Outra vantagem do tamanho reduzido dos carros de golfe é que eles representam muito menos perigo do que um veículo utilitário esportivo (SUV) ou um caminhão em uma colisão ou em um acidente de tráfego envolvendo pedestres e ciclistas, exemplifica a revista. Ainda no que se refere à questão ambiental, a publicação relata que construir e carregar automóveis pequenos geram “significativamente” menos emissões do que os veículos tradicionais e até mesmo do que os elétricos.
Outro ponto favorável dos carrinhos de golfe é a socialização. Conforme a Fast Company, esses modelos têm o potencial de deixar os bairros um pouco mais amigáveis. A explicação para isso é dada através do exemplo do subúrbio Peachtree City, que fica a aproximadamente 50 quilômetros de Atlanta, na Geórgia (EUA), onde esse tipo de condução tem sido adotado por um número cada vez maior de residentes. A prefeita da cidade, Kim Learnard, disse à revista que, por serem automóveis que circulam com uma velocidade baixa e, em geral, são abertos, os condutores costumam parar para conversar com os vizinhos que estão cuidando do jardim ou caminhando. Algo que, de acordo com ela, não aconteceria se o motorista estivesse em um veículo padrão.
Os carros de golfe são vistos também, como destaca o artigo da Slate, por muitos como uma opção de transporte que melhora a acessibilidade para indivíduos com mobilidade diminuída e para idosos que não dirigem mais. Com esses automóveis, esses cidadãos podem ter autonomia para fazerem suas compras, terem vida social – indo a eventos e visitando familiares e amigos que vivem perto – e voltarem a ocupar os municípios. Apesar dos muitos benefícios que eles trazem para a mobilidade, ainda há desafios a serem vencidos para popularizá-los.
Um deles, descreve a Fast Company, é a falta de lugares seguros nos Estados Unidos para as pessoas andarem ou dirigirem um automóvel pequeno, uma vez que as localidades tiveram, por muitas décadas, seus projetos de desenvolvimento centrados nos veículos convencionais. No entanto, a publicação observa que já existem movimentos para modernizar as ruas existentes, dando mais área para calçadas qualificadas e ciclovias protegidas. A criação de zonas de baixa velocidade, onde os automóveis podem chegar a 20 ou 30 quilômetros por hora, é mais uma possibilidade para mudar as cidades e seus bairros e deixar o trânsito mais seguro.
Um avanço na mobilidade, mas que não funciona em todas as realidades urbanas
A presença de carros de golfes é mais comum nos subúrbios norte-americanos, acrescenta a Fast Company, em locais como o The Villages, na Flórida, e o Peachtree, na Geórgia. Mas, eles estão se disseminando também em lugares como Scottsdale, no Arizona, e já aparecem no centro de Tampa, na Flórida. Nesses dois municípios, tanto os habitantes quanto os turistas contam com serviços de aluguel desses equipamentos. A revista cita ainda que o fabricante do GEM, um dos veículos pequenos e de baixa velocidade que vem ganhando a preferência entre os clientes desse tipo de transporte, está migrando para a venda direta aos consumidores com a disponibilidade de novos designs e modelos para dois, quatro ou seis ocupantes.
Esses automóveis podem ser vistos com frequência também na Ilha Catalina, na costa de Los Angeles (Califórnia), e na Ilha Bald Head, uma pequena vila na Carolina do Norte, que proibiu os veículos, complementa o artigo da Slate. Por serem leves, os carros de golfe são adequados para regiões ambientalmente frágeis, afirma a publicação. A revista pontua que, mesmo diante das muitas oportunidades trazidas por esses automóveis, eles não são uma alternativa de transporte escalonável em todas as cidades. Mesmo sendo menores, esses veículos ainda ocupam muito espaço em metrópoles densas, como Chicago e Nova York. Contudo, os carrinhos de golfe podem ser promissores em municípios que não possuem densidade que suporte um serviço de transporte coletivo, como ônibus, metrôs ou trens, defende o artigo.
Com uma população de cerca de 38 mil moradores, Peachtree tem atualmente mais de 10 mil carros de golfe registrados, segundo a Slate. Uma das primeiras localidades dos Estados Unidos a adotar esse tipo de veículo, foi fundada em 1959 com diversas subdivisões interligadas por trilhas e vias tradicionais. O pequeno automóvel passou a ser utilizado pelos residentes para percorrer essas trilhas que conectam os bairros e novos usuários chegaram quando a cidade pavimentou esses caminhos com três metros de largura, o que permitiu o seu compartilhamento entre pedestres, ciclistas, scooters e carros de golfe.
Em 2022, Peachtree contava com aproximadamente 160 quilômetros de caminhos, compondo uma ampla rede que liga comunidades, com uma estrutura que é complementada por túneis que passam por baixo das ruas e estradas. A publicação informa também que esses veículos não são regulamentados pelo estado, mas pelas leis municipais eles podem ser dirigidos por qualquer indivíduo com 16 anos ou mais, com seguro opcional, mas estimulado pela prefeitura. Eles são a escolha na hora dos habitantes locais irem a uma loja, restaurante, escola ou na casa de vizinhos ou amigos.
Rumos da mobilidade passam pelo incentivo a outros meios de transporte, como e-bikes e tuk-tuks
Transformar as cidades em ambientes melhores para as pessoas demanda mudanças na forma como esses lugares são enxergados e naquilo que é priorizado nas decisões sobre planejamento urbano, incluindo as relacionadas à mobilidade. O trânsito influencia não apenas o tempo que os indivíduos gastam em seus deslocamentos cotidianos, ele afeta a qualidade de vida dos cidadãos, a definição de onde viver, as opções de trabalho e de lazer e ainda a produtividade e a economia dos municípios. Por isso, repensar a presença dos automóveis nas localidades, em especial nos centros, é fundamental para promover essa modificação e contribuir no combate ao aquecimento global.
Aprimorar o transporte público e fomentar a utilização de outras formas de locomoção são algumas das medidas que podem colaborar na redução do uso de carros. As bicicletas elétricas (ou e-bikes) são uma dessas alternativas para percorrer distâncias mais longas sem cansar ou suar muito – uma de suas maiores vantagens em relação aos modelos tradicionais. Mais sustentáveis que os veículos movidos a combustível fóssil, as e-bikes oferecem também uma chance para as pessoas praticarem uma atividade física, isso porque elas são híbridas, funcionando através das pedaladas e do motor que têm acoplado.
Ao substituir as viagens realizadas de carro, uma bicicleta elétrica individual pode diminuir as emissões de CO2, conforme matéria da National Geographic, em 225 quilogramas por ano, o que equivaleria às emissões produzidas por um passageiro que voa em classe econômica da Filadélfia para Chicago, ambas nos Estados Unidos. Uma das principais barreiras para que mais indivíduos adotem as e-bikes para efetuarem seus trajetos é a falta de infraestrutura adequada, revela a revista. Além de mais ciclovias protegidas, a National Geographic lista que há a necessidade de aperfeiçoar a sinalização, reduzir a velocidade dos automóveis e a idealização de um plano rodoviário mais inclusivo para tornar as cidades mais amigas das bicicletas.
O valor é mais um obstáculo para a ampliação das e-bikes. Levantamento da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas – Aliança Bike apurou que o preço médio desses equipamentos era de R$ 6,8 mil em 2022. Mesmo assim, esse mercado está em ascensão no País, somando R$ 304,9 milhões em vendas no ano passado. O total de unidades de e-bikes comercializadas no Brasil chegou a 44.833 unidades em 2022 e a projeção é a de fechar 2023 com 53,4 mil bicicletas elétricas vendidas, uma elevação de 19%.
Outras iniciativas que vêm auxiliando na alteração da maneira como os cidadãos se deslocam são os patinetes elétricos, que possuem serviços de compartilhamento, assim como as bicicletas, e a locomoção feita em tuk-tuks. O tradicional triciclo motorizado indiano vem ganhando tecnologia e tem sido disponibilizado por empresas em distintos municípios do Brasil e do mundo para levar pessoas e encomendas para seus destinos de um jeito mais sustentável. A operação desses triciclos elétricos é igual à dos aplicativos de transporte.
Um consórcio para a aquisição de e-bikes, patinetes e tuk-tuks elétricos foi lançado no começo deste ano pela Magazine Luiza, ressalta reportagem do Tecmundo, em parceria com a companhia de mobilidade elétrica Cicloway – que vende esses equipamentos no País. O objetivo com a ação é ampliar o acesso a esses veículos, possibilitando que os indivíduos comprem os produtos oferecidos (são mais de dez modelos elétricos de menor porte) pela empresa com pagamento parcelado e sem juros – esses itens podem custar o preço de um automóvel popular zero quilômetro no País, de acordo com o Tecmundo.
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