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Com o propósito de criar cidades melhores e mais resilientes para o futuro, os escritórios de arquitetura BIG, MVRDV, Studio Gang e Heatherwick Studio desenvolvem empreendimentos que fogem do comum e se destacam com suas formas singulares, conexão com o entorno e as pessoas e preocupação ambiental.

Fugindo de paisagens monótonas, com prédios que se assemelham em forma e materialidade e que poderiam ser erguidos em qualquer lugar do mundo, novos projetos com design arrojado e soluções práticas estão sendo construídos por profissionais e companhias que estão na vanguarda da arquitetura. As iniciativas contemporâneas autorais desenvolvidas nas últimas décadas trazem personalidade às áreas urbanas e unem sustentabilidade a desenhos, processos e materiais inovadores, desafiando a mesmice e as restrições de lotes e legislações com criatividade e uma dose de ousadia.

Os formatos inusitados das edificações vêm acompanhados de medidas que as tornam mais eficientes e menos impactantes para o meio ambiente, sem deixar de lado a preocupação com sua funcionalidade e o conforto dos usuários. A reaproximação com a natureza, a conexão com o entorno e dos indivíduos entre si e com suas comunidades, o incentivo à mobilidade ativa (caminhar e pedalar) e a idealização de espaços públicos atrativos e dinâmicos são questões que atravessam os empreendimentos arquitetônicos atuais, qualificando as localidades e as preparando para os desafios da crise climática.

Nesse sentido, alguns escritórios de arquitetura e design têm se sobressaído na concepção de complexos que chamam a atenção e transformam a paisagem urbana, como o BIG, da Dinamarca, MVRDV, da Holanda, Studio Gang, dos Estados Unidos, e Heatherwick Studio, da Inglaterra. Conheça um pouco mais sobre algumas das iniciativas elaboradas por cada um deles e suas visões sobre arquitetura e seus reflexos no futuro dos municípios.

Com uma filosofia de design apelidada de “utopismo pragmático”, os projetos criados pelo arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels, fundador do Bjarke Ingels Group (BIG), empresa sediada em Copenhague e que atua desde 2005, combinam idealismo com considerações práticas para a idealização de lugares social, econômica e ambientalmente corretos, detalha a revista Architectural Digest. Ingels acredita que a arquitetura deve resolver problemas ao mesmo tempo que desperta alegria. Visão que é traduzida em trabalhos como o 8 House, na capital dinamarquesa, uma nova abordagem para a moradia e comércios, que prioriza a habitabilidade e o senso de comunidade, o VIA 57 West, em Nova York (EUA), a Vancouver House, no Canadá e o The Spiral, na Big Apple.

A Copenhill, por exemplo, é uma usina de reciclagem em Copenhague que converte resíduos em energia limpa e possui uma pista de esqui artificial no telhado. O empreendimento foi pensado desde o início para funcionar também como uma estrutura pública, aberta o ano todo, que conta ainda com trilhas arborizadas e uma parede de escalada em sua fachada. Ingels defendeu em uma palestra no TED que os arquitetos precisam se tornar “mais do que apenas designers de fachadas bidimensionais ou objetos arquitetônicos tridimensionais. Temos que nos transformar em designers de ecossistemas – sistemas de ecologia e economia que incorporem nossos padrões de consumo e nossas sobras ao ambiente natural”, recordou artigo da revista Curbed.

Em entrevista para o Salão do Móvel de Milão o fundador do BIG salientou que hoje, com a urgência de diminuir a pegada de carbono da indústria da construção, a sustentabilidade não é apenas uma necessidade, mas uma oportunidade extraordinária para a arte, estética e a inovação técnica. Ele comentou ainda sobre a reutilização de materiais recuperados de prédios já erguidos e do reaproveitamento de estruturas já existentes como caminhos para mitigar os impactos ambientais de novas iniciativas. Ingels ponderou também que uma cidade sustentável é melhor para a natureza e mais agradável para os seus residentes.

Apontado por Ingels como um “cruzamento nova-iorquino entre o arranha-céu de apartamentos e o edifício com pátio do Norte da Europa, como ressalta a Curbed, o VIA 57 West foi desenvolvido com um formato triangular que permite visualizar o Rio Hudson. Com 709 unidades e um jardim central de 22 mil metros quadrados, o complexo possibilita que a área aberta invada o tecido urbano de Manhattan, aumentando a interação entre espaços internos e externos e trazendo um novo elemento à linha do horizonte de Nova York, afirmou o arquiteto ao ArchDaily. As alterações de volumes do projeto, que em sua parte mais alta chega a 137 metros, são percebidas dependendo do ponto de vista dos pedestres.

No Canadá, Ingels e sua equipe desafiaram a gravidade com uma torre de apartamentos que tem a base mais estreita que o seu topo. Com 147 metros de altura, a Vancouver House se torce e expande conforme seus andares vão subindo, relata a Bloomberg. O desenho para o arranha-céu com cerca de 500 imóveis nasceu a partir das restrições de zoneamento da região onde ele foi implementado: não estar muito perto da rua, ficar a pelo menos 30 metros de distância da Ponte Granville e não sombrear o parque que fica próximo ao prédio. Com suas iniciativas, o BIG demonstra que a arquitetura pode ser tanto lógica e extravagante como sensata e disruptiva, indica a Curbed.

MVRDV desenvolve locais e paisagens mais verdes e adaptáveis às mudanças

Fundado em 1993, em Roterdã (Holanda), pelos arquitetos Winy Maas, Jacob van Rijs e Nathalie de Vries, o escritório MVRDV possui uma equipe de mais de 300 pessoas e unidades em Xangai (China), Paris (França), Berlim (Alemanha) e Nova York. Centrado em conceber empreendimentos que oportunizem que os municípios e as paisagens urbanas se desenvolvam em direção a um futuro melhor, a empresa cria complexos sustentáveis, inclusivos e sociais, como frisa a arquiteta Fokke Moerel, uma das sócias da companhia, em palestra para o Manni Group.

Os elementos que marcam os projetos do MVRDV vão desde volumes não uniformes, camadas sobrepostas, estruturas articuladas que se desenvolvem verticalmente até formas incomuns, materiais inovadores e fachadas tridimensionais. Outro ponto importante para o escritório é tornar os seus empreendimentos mais flexíveis e adaptáveis às modificações que ocorrem nos usos dos lugares, na tecnologia, nos gostos dos indivíduos e no meio ambiente. Surpreender clientes e pessoas é outro objetivo da empresa, que se firmou como uma referência mundial em prédios mistos, inesperados e alegres, como o próprio MVDRV se descreve.

Elevar a presença de uma diversidade de plantas em suas iniciativas é um dos focos dos trabalhos do escritório. Winy Maas revelou em entrevista para a organização Iconic Houses que a companhia vem realizando pesquisas sobre diferentes tipos de biomas no planeta e as espécies que prosperam em cada um deles como uma forma de impulsionar sua utilização nos complexos e alcançar cidades mais verdes e sustentáveis. “Como a nossa Green Villa em Sint-Michielsgestel, na Holanda, substituímos a fachada por fileiras e vasos de plantas em prateleiras”, compartilhou Maas.

O MVRDV também idealiza edifícios públicos que oferecem experiências enriquecedoras. Segundo seus fundadores, os espaços coletivos são a alma de localidades prósperas. A Casa de Cultura em Movimento Ku.Be é um exemplo dessa percepção. O centro comunitário em Frederiksberg (Dinamarca) foi elaborado para unir a comunidade e estimular adultos a terem um estilo de vida mais ativo. Para isso, a construção tem uma série de blocos coloridos que abrigam distintas funções e entre eles ficam labirintos, escorregadores, redes e paredes de escalada, levando os usuários a brincarem e socializarem pelas áreas, observa artigo da Dezeen.

A empresa foi responsável ainda pelo desenvolvimento do acervo do Museu Boijmans van Beuningen, no Centro de Roterdã. O prédio redondo e em forma de tigela, que não dá as costas para nenhum dos edifícios vizinhos no Museumpark, reúne em torno de 151 mil obras de arte e design da instituição e é o primeiro acervo do mundo a ser totalmente acessível aos visitantes. No telhado, há um parque, deixando o ambiente coletivo ainda maior. O projeto, assinalam os profissionais do escritório, aproxima o museu das pessoas e auxilia o público a compreender a importância cultural do lugar.

Já a flexibilidade vertical é um dos diferenciais do empreendimento Market Cube, em Zhubei, Taiwan. O MVRDV ganhou um concurso público para conceber o empreendimento, que alia mercado e praça de alimentação a espaços culturais e de serviços variados, trazendo movimento em diversos horários do dia. Localizado às margens do Rio Touqian, o prédio deve se tornar um novo destino turístico no município. Ele foi desenhado com andares abertos que se adaptam às novas demandas que surgirem. “O Market Cube é como um condensador de distintas experiências”, declarou Maas. Acessos facilitados de diferentes pontos da rua e iluminação variada para comunicar a função de cada pavimento são outras particularidades da iniciativa.

As características regionais também são inspiração para os projetos da companhia, como o Canyon, em São Francisco (EUA), aponta a revista Architectural Digest, que buscou referências nas formações rochosas californianas. O complexo é uma colaboração entre o time de beisebol Giants e o Porto do município para revitalizar a parte Sul da baía da cidade e terá quatro edifícios. O empreendimento de uso misto do MVRDV integra o novo bairro Mission Rock, erguido em um antigo estacionamento em frente ao estádio do Giants. O Canyon é composto por um pedestal de cinco andares, onde ficam escritórios, lojas e restaurantes, e uma torre de apartamentos de 73 metros. A fachada escalonada e em marrom-avermelhada remete às montanhas daquele estado.

Studio Gang: design para promover conexões e iniciativas mais sustentáveis

Desenvolver áreas marcantes que conectam os indivíduos entre si, com suas comunidades e com o meio ambiente é o propósito da arquiteta Jeanne Gang, sócia-fundadora do Studio Gang, com sede em Chicago e escritórios em Nova York, São Francisco e Paris. Ela disse em entrevista à revista The Talks que para planejar um município bem-sucedido é necessário, antes de tudo, entender o que já existe no lugar, como um prédio funcionaria naquele clima e o que poderia ser feito para fomentar mais reciprocidade entre o espaço, a arquitetura e o habitat. “A cidade para dar certo precisa fazer algo por todos os seres vivos que estão ali”, ponderou a criadora da empresa, aberta em 1997.

A companhia possui um portfólio diversificado de projetos, que inclui centros culturais, instalações que desafiam as propriedades materiais tradicionais, torres altas que incentivam a formação de comunidade e áreas coletivas que geram reflexo social e ecológico positivo. Inclusive, Jeanne argumentou ao The Talks que gosta muito de desenhar complexos públicos que ajudam as pessoas ou organizações a crescerem, entre eles museus, bibliotecas e ambientes onde se pode quebrar algumas barreiras que os indivíduos têm entre si.

Entre os empreendimentos do Studio Gang estão a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, o Aqua Tower, o Centro Richard Gilder para Ciência, Educação e Inovação no Museu Americano de História Natural e Populus Hotel. Com apartamentos para aluguel, escritórios, estacionamento e um hotel distribuídos em 82 andares, o Aqua Tower conta com um dos maiores telhados verdes de Chicago e facilita as conexões entre as pessoas e a cidade. De acordo com a empresa, o arranha-céu teve o formato de cada laje esculpido para oferecer terraços externos confortáveis, onde os vizinhos podem interagir e apreciar pontos turísticos da localidade.

Concluído em 2024, o Populus Hotel, em Denver (EUA), teve o seu formato influenciado pela espécie nativa do Colorado, o álamo – também chamada de Populus Tremuloides –, estabelecendo uma fachada que ficou conhecida como “casca de árvore”, descreve a Dezeen. “Nosso objetivo era aproveitar esse caráter urbano distinto e essa rica ecologia para conceber um edifício que contribuísse na definição do horizonte de Denver”, explicou a fundadora do Studio Gang. Com 265 quartos de hóspedes, espaço para eventos e um jardim na cobertura de 12,5 mil metros quadrados, o Populus promove, conforme o escritório, a sustentabilidade por meio do adensamento no centro do município, ativando toda a sua planta triangular e compacta.

Além disso, a estrutura de concreto minimiza a utilização de cimento e não há estacionamentos no prédio, estimulando os visitantes a optarem por meios de transporte que gerem menos emissões de gases de efeito estufa. O telhado verde visa ainda reconectar os habitantes com a natureza em um lugar privilegiado da cidade.

Na área cultural, o Centro Richard Gilder para Ciência, Educação e Inovação no Museu Americano de História Natural, em Nova York, melhora a experiência e visibilidade dos visitantes e a funcionalidade dos ambientes, assim como aperfeiçoa a interação com os edifícios e a natureza do entorno. Com formato orgânico, a entrada principal do prédio de cinco andares lembra uma caverna moldada pelo movimento do vento e da água, que convida para a exploração e descoberta do espaço, salienta Jeanne. Ela informa também que o Centro se abre para a luz natural e o exterior, bem como proporciona vistas para as diferentes áreas da instituição.

Heatherwick Studio quer projetar lugares com alma

Um planeta onde os edifícios e os ambientes urbanos sejam mais alegres, envolventes e humanos é o objetivo do designer Thomas Heatherwick. Com uma equipe de mais de 250 profissionais, o Heatherwick Studio foi fundado em 1994, em Londres, e hoje, além da sede na capital inglesa, tem estúdio em Xangai. A abordagem que orienta todas iniciativas da companhia é a experiência dos indivíduos, o que resulta em locais com alma e impacto, que celebram as complexidades do mundo real.

Heatherwick defende que os prédios precisam ser concebidos com paixão por designers, desenvolvedores, autoridades municipais e planejadores urbanos para que sejam generosos com os transeuntes. Em entrevista para o escritor e jornalista Alain Elkann, o designer comentou que a arquitetura não se preocupou o suficiente com o exterior dos empreendimentos. “Os sentimentos que ela poderia proporcionar a estranhos são uma lacuna sobre a qual não falamos”, enfatizou. Para Heatherwick, na escala urbana, o cérebro precisa de complexidade visual. Ele percebeu, trabalhando com neurocientistas e pesquisadores, que as pessoas ficam mais estressadas quando entram em um espaço onde tudo é simples, plano, brilhante, monótono e sério.

Desde 2023, o designer vem divulgando sua campanha Humanize, na qual trava uma batalha contra os edifícios vistos por ele como “entediantes” e dissemina a importância para as cidades e o bem-estar e felicidade de seus habitantes de complexos que despertem alegria e chamem a atenção dos pedestres. O parque público implementado sobre as águas do Rio Hudson, em Nova York, é um exemplo de projetos que resumem os ideais de Heatherwick. O Little Island é uma área verde composta por 132 colunas de concreto esculpidas em formato que remete a tulipas ou cogumelos, segundo a revista The Architectural Review.

O acesso ao píer, que fica no West Side de Manhattan, é feito por uma plataforma de madeira e o lugar conta com anfiteatro e jardineiras preenchidas com mais de cem árvores e plantas nativas, acrescenta o ArchDaily. Cada recanto da ilha representa um microclima distinto. “[É] um ambiente que daria uma espécie de permissão emocional para olhar para a localidade de um ponto distinto de Nova York”, relatou Heatherwick à Dezeen. A estrutura, que levou dez anos para ficar pronta, foi inaugurada em 2021.

O Heatherwick Studio também foi o idealizador da obra The Vessel, um espaço público escultural com mais de 154 escadas, 2,5 mil degraus e 80 patamares, implementado no empreendimento Hudson Yards, de acordo o ArchDaily. O monumento permite vistas panorâmicas para Manhattan e uma experiência diferente para os frequentadores. O desafio para o estúdio foi conceber um novo marco para Nova York que possibilitasse ser explorado e escalado em toda a sua dimensão. Com 45 metros de altura, a estrutura se eleva a partir da praça do lugar e vai se alargando até chegar ao topo. O Vessel, conforme o Dezeen, gerou polêmica por causa de suicídios registrados no local e foi fechado em 2021, sendo reaberto em 2024, após ter o seu exterior coberto por uma malha de aço como medida de segurança.

A empresa desenvolveu ainda iniciativas como a repaginação dos tradicionais ônibus de dois andares de Londres e a revitalização de dois armazéns vitorianos com um viaduto ferroviário anexo, em King’s Cross, no Centro da capital inglesa, detalha artigo da plataforma de arquitetura e design Rethinking The Future. O estúdio venceu o concurso para criar o Centro de Aprendizagem da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, e idealizou o Museu Zeitz de Arte Contemporânea da África, na Cidade do Cabo (África do Sul). O Heatherwick Studio converteu o silo de grãos do município em um espaço para exposições artísticas. O complexo era formado por uma torre, que virou farol para o porto local, e tubos de concreto que foram integrados ao projeto.

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