Novas tecnologias surgem como alternativas ao uso do asfalto nas cidades.
Material utilizado na pavimentação da maioria das estradas e vias urbanas brasileiras e do mundo, o asfalto causa uma série de reflexos no meio ambiente desde o seu processamento até a aplicação. Obtido a partir do petróleo, uma fonte não renovável, o produto impermeável dificulta a absorção da chuva, podendo levar ao acúmulo de água em sua superfície e gerar inundações, como ressalta matéria do Planetizen. Além disso, ele contribui para a formação de ilhas de calor nas cidades e para a poluição do ar devido aos gases nocivos liberados ao longo de toda sua cadeia. Para diminuir esses danos e o uso do material fóssil, cientistas de diferentes países estudam soluções mais sustentáveis e combinações com outros elementos, como resíduos de borracha, plásticos e da construção civil.
No Brasil, uma das alternativas mais difundidas nesse sentido é o reaproveitamento de pneus na mistura asfáltica. “O asfalto-borracha vem ganhando espaço, reutilizando itens que, muitas vezes, são descartados de forma irregular”, afirma Gracieli Colpo, professora do curso de Engenharia Civil da PUC-RS e pesquisadora do Laboratório de Pavimentação (Lapav) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em entrevista ao Movimento Somos Cidade. Podendo ser empregado também em empreendimentos comerciais e residenciais, como condomínios e bairros planejados, ele tem durabilidade maior do que a da versão comum – se bem aplicado.
Apesar de demandar temperaturas maiores para sua colocação (emitindo mais gases na atmosfera) e o custo ser mais elevado que o produto tradicional, o uso do asfalto-borracha tem benefícios que superam as desvantagens, na avaliação de Gracieli. “Ele já vem sendo usado por concessionárias de rodovias e órgãos federais e estaduais. Funciona ainda para municípios, onde apresenta uma performance melhor que o asfalto convencional”, acrescenta Gracieli, que desenvolve estudos no segmento de desempenho de misturas asfálticas e de reciclagem em pavimentação. Ela conta que Santa Catarina tem utilizado o asfalto-borracha tanto em estradas como em trechos de conexão com ruas urbanas.
A professora assinala ainda que o produto tradicional é muito empregado no País em razão do seu custo inicial ser mais atrativo e da cultura que se estabeleceu na maioria das empresas nacionais. “No entanto, o asfalto-borracha tem uma vida útil maior e precisa de menos manutenção. E é esse pensamento de longo prazo que precisamos começar a ter”, enfatiza. Adotado desde a década de 1990 no Brasil, esse material passou a ser usado em larga escala a partir dos anos 2000, sendo aplicado no Rodoanel (São Paulo), na avenida Atlântida (Rio de Janeiro), nas vias internas da Usina de Itaipu (Paraná) e na Beira-Mar Norte de Santa Catarina, cita a matéria do portal de notícias sobre construção civil AECweb.
A redução do tempo de liberação da pista ao trânsito em comparação à execução com asfalto tradicional é mais uma vantagem do produto elaborado com pneus indicada pela reportagem. “De acordo com a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), a vida útil desse pavimento é superior ao convencional em 40%, o que diminui a necessidade de reparos nas ruas, ajudando a manter a fluidez do tráfego de veículos”, frisa o texto. O asfalto-borracha também reduz o risco de “aquaplanagem e melhora a frenagem e aderência dos automóveis, oferecendo mais segurança aos motoristas”.
Novos estudos avaliam utilização de resíduos plásticos e da construção civil
Ainda em fase de pesquisa no País, a inserção na mistura asfáltica de plásticos que iriam parar no lixo é a mais recente solução em análise. Segundo a professora da PUC-RS, Gracieli Colpo, há diversos estudos em andamento no Brasil sobre o emprego de polietilenos de alta e baixa densidade para diminuir os efeitos ambientais da pavimentação tradicional e obter um desempenho melhor. “Há também os asfaltos modificados com o uso de polímeros – que oferecem uma performance superior, mas são mais caros”, adianta.
Além disso, alguns estados estão aproveitando resíduos da construção civil nas camadas inferiores do pavimento de rodovias (que são as que dão resistência às estruturas), complementa Gracieli. A iniciativa, que ajuda a dar uma destinação adequada às sobras produzidas pelo setor, já conta com pistas experimentais instaladas e em teste em regiões como Santa Catarina e Paraná.
As “misturas mornas” são outra possibilidade com menos reflexos no meio ambiente que vêm sendo fabricadas e adotadas no País, de acordo com Gracieli. “Aditivos são utilizados para baixar a temperatura de aplicação do material, que é feita em torno de 30 a 40 graus, com um ganho muito significativo tanto na sua produção como na colocação”, detalha. Muitas prefeituras estão optando pelo produto, que possui especificações dos órgãos rodoviários e liberam menos dióxido de carbono (CO2), como a de Porto Alegre (RS), que o instalou em um trecho de movimento intenso de veículos próximo à rodoviária da cidade.
A pesquisadora informa ainda que uma nova norma foi publicada recentemente pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) referente ao material fresado, que é o reaproveitamento do pavimento de concreto asfáltico. Em 2020, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) anunciou que terá uma usina de reciclagem para fabricar asfalto de alta qualidade a partir de resíduos de obras, pedaços de concreto e sarjeta, relata reportagem do site Ecycle.
A matéria reúne outros estudos mundiais em desenvolvimento nessa área, como o realizado na Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, com borra de café “como parte de um produto de construção de estradas mais sustentáveis”. De acordo com o Ecycle, a borra de café foi misturada a um material “residual da fabricação de aço, a escória, e a uma solução alcalina líquida para unir tudo. O resultado foram blocos cilíndricos robustos o suficiente para serem usados abaixo da superfície da rodovia”. Na Suíça, cientistas verificaram o emprego de cordas colocadas por braços robóticos para juntar o asfalto ao invés de betume. A reportagem revela que no lugar de concreto para prender as pedras soltas, o cascalho “foi entrelaçado com um fio que mantinha toda a estrutura”. Ainda no começo do experimento, a ideia é obter um pavimento reciclável no futuro.
Para Gracieli, o papel dos pesquisadores é buscar novas soluções e tecnologias, principalmente no campo da sustentabilidade, tentando melhorar o produto aplicado nas ruas de municípios e estradas. “Sem pesquisa a gente não consegue avançar. Mas, só isso não adianta. Os gestores e órgãos públicos têm que trabalhar em conjunto para que se consiga utilizar esses materiais que estamos estudando e apresentam bom desempenho ao longo do tempo”, salienta.
Iniciativas retiram asfalto das vias e apostam em pavimentos permeáveis
Com cerca de um terço do território das cidades norte-americanas pavimentado e uma concentração maior em regiões de baixa renda, onde chama a atenção a falta de árvores e de suas sombras, muitas localidades dos Estados Unidos estão desencadeando ações para remover o asfalto de ruas, estacionamentos e ambientes públicos, aponta a reportagem do Planetizen. Em Chicago, por exemplo, a Espaço para Crescer transforma playgrounds de escolas construídos com o produto em jardins com estruturas para a captação de águas pluviais. A partir do design, a proposta cria pontos que estimulam as brincadeiras, o aprendizado e o contato com a natureza, assim como qualifica o bairro no entorno das instituições atendidas.
Já o programa Depave, em Portland, atua por meio do reflorestamento urbano de lugares pavimentados. O objetivo é promover a “capacitação e educação de comunidades vulneráveis, principalmente aquelas afetadas pelo racismo sistêmico”, como descreve o site do projeto. O trabalho realizado pelos voluntários em conjunto com os moradores beneficiados envolve a recuperação de locais públicos e a sua destinação para o plantio de alimentos e coleta das águas da chuva. Conforme o Planetizen, ao retirar o asfalto das vias, pode-se imaginar “esses espaços como áreas sociais permanentes e ambientalmente sustentáveis”.
Para reduzir as inundações nos municípios, evitar o acúmulo de água e a formação das ilhas de calor e manter os aquíferos subterrâneos, uma solução é a substituição dos pavimentos convencionais por modelos permeáveis – que são compostos por camadas de pedras britadas de diversos tamanhos, que deixam vãos para o escoamento da água das chuvas, como esclarece a matéria do portal AECweb. Vantajosa para o meio ambiente, a medida tem as suas restrições, argumenta a professora da PUC-RS, Gracieli Colpo. O piso permeável é mais indicado para lugares como complexos comerciais e residenciais, parques e áreas com menor fluxo de veículos. “Em pontos com tráfego intenso, a estrutura resiste menos e vai precisar de mais manutenção”, pondera. A reportagem do AECweb agrega que a sua aplicação ideal é em estacionamentos, ambientes de circulação, jardins, quadras poliesportivas, ciclovias e calçadas.
Esse tipo de pavimento também pode ser planejado para captar e armazenar as águas da chuva. “Com uma drenagem eficiente, pode-se coletar a água e reutilizá-la”, ressalta a pesquisadora. A prefeitura de São Paulo e o Centro Tecnológico de Hidráulica da USP construíram, em 2010, um sistema de aproveitamento da água pluvial em um estacionamento de 1,6 mil m² da universidade, recorda o texto do AECweb. O projeto tinha como meta ser um piloto na busca por alternativas para os problemas de drenagem urbana. Consultado pelo portal de construção civil, o então professor de Hidráulica na Escola de Engenharia Mackenzie e titular do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação da cidade de São Paulo, Afonso Virgiliis, afirmou que o piso permeável é uma tecnologia benéfica em situações emergenciais. “Ele é favorável em casos de escassez de água, especialmente se for amplamente usado por condomínios, loteamentos, edifícios e moradias como reúso e até mesmo como iniciativa complementar de drenagem urbana, contribuindo para a diminuição das enchentes”, ponderou.
Adotando o mesmo princípio dos pavimentos permeáveis, os jardins de chuva já são uma realidade em cidades como Nova York (Estados Unidos), Bogotá (Colômbia), São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia. Implementados junto às ruas urbanas, perto de calçadas, parques e pátios de casas e comércios, eles melhoram a absorção natural da água pelo solo, aumentam a umidade do ar e trazem o verde das plantas e árvores de volta para os municípios. Com eles, retornam também as áreas sombreadas e os pássaros. Instalados abaixo do nível das vias e preparados com uma camada drenante, os jardins diminuem a velocidade do escoamento da chuva e evitam o empobrecimento dos terrenos devido ao ressecamento. Eles compõem o conjunto de medidas que vem sendo adotado pelas chamadas “cidades-esponja”, assim como os lagos artificias, as praças alagáveis, os telhados verdes e os calçamentos drenantes.
Ao todo, Nova York deve ter 9 mil canteiros desse tipo em diversos bairros, como Brooklyn, Queens e Bronx. A estimativa do governo local é que a ação impeça que cerca de 2 milhões de m³ de água sobrecarreguem o sistema de esgoto da cidade. No Brasil, a capital paulista foi pioneira na colocação dessas estruturas em lugares como rotatórias e praças, com jardins em Pinheiros, Moema, Mooca, entre outros bairros.
Seja o primeiro a receber as próximas novidades!
Não fazemos SPAM. Você pode solicitar a remoção do seu email a qualquer tempo.