Da implementação de residências médias à redução da burocracia para a edificação de novas comunidades e às intervenções pontuais em ambientes públicos, distintas soluções urbanísticas de menor porte têm sido adotadas para qualificar as localidades e enfrentar a crise habitacional. Conheça mais sobre 12 dessas medidas
Diferentes movimentos, ao longo das últimas décadas, vêm promovendo o desenvolvimento urbano de pequena escala como uma alternativa para a criação de bairros dinâmicos, a produção de moradias de diversos formatos e para distintas faixas de renda e o aprimoramento dos espaços coletivos para que a experiência das pessoas nesses lugares seja aperfeiçoada. Além do tempo mais curto e dos custos mais baixos de execução, os benefícios desse tipo de construção abrangem a diminuição dos riscos envolvidos, aprovação mais rápida dos empreendimentos e a percepção mais cedo de suas vantagens.
A esses fatores, o editor do Public Square, jornal do Congresso para o Novo Urbanismo (CNU), Robert Steuteville, acrescenta que os projetos urbanísticos de menor porte são mais fáceis de serem implementados e estão acessíveis para a participação de pequenos operadores do setor imobiliário. O escritor e consultor sênior em comunicação do CNU salienta ainda que, por serem elaboradas por “muitas mãos”, essas iniciativas reúnem grupos multidisciplinares com visões e conhecimentos variados atuando independentemente, o que enriquece o resultado final.
Outro ponto reforçado por ele é que o urbanismo em menor escala acaba sendo mais flexível com o passar do tempo, adequando-se às mudanças que possam ocorrer no público dos ambientes ou nos usos dos locais. “Uma abundância de minimovimentos nasceu para fazer melhorias em cidades e comunidades, a maioria delas relacionada ao Novo Urbanismo”, argumenta. Steuteville lembra que essa escola urbanística ganhou força no início dos anos 1990 e defende o retorno do desenho dos municípios centrado nos indivíduos e não nos carros, com bairros mistos, caminháveis, com espaços públicos qualificados e quarteirões atrativos.
A seguir detalhamos 12 formatos de fazer urbanismo de pequeno porte que têm sido colocados em prática pelo mundo.
1 – Habitações médias
O conceito de “Missing Middle Housing” (Casas Médias Desaparecidas) foi idealizado pelo arquiteto e urbanista Daniel Parolek, há mais de dez anos, para incentivar a edificação de prédios e habitações compatíveis em design e escala com as propriedades unifamiliares tão comuns nos municípios dos Estados Unidos e de outros países. A ideia difundida por Parolek prevê a instalação de residências de dois a quatro andares, com diversas unidades, em comunidades com serviços, comércio e transporte público próximos, onde antes apenas imóveis para uma única família eram permitidos por terreno.
Possibilitar que as localidades ofereçam apartamentos e moradias menores oportuniza que famílias com rendas e configurações variadas consigam comprar ou alugar habitações em regiões com infraestrutura mais desenvolvida, como explicado em matéria feita para o nosso portal. Em conjunto com a disponibilização de casas de distintos tamanhos é preciso contar com calçadas preparadas para as caminhadas, ruas com espaço para as bicicletas e conexão com o transporte coletivo.
2 – Desenvolvimento incremental
Conforme Robert Steuteville, do Public Square, outro movimento que tem se destacado na área é o do Desenvolvimento Incremental, que surgiu da observação de que grandes lugares são construídos de maneira gradual. O editor afirma que esse tipo de urbanismo traz uma chance para que pequenos empreendedores atuem juntos na implementação de bairros completos. Em 2015, a Incremental Development Alliance foi fundada por urbanistas com o propósito de compartilhar informações e realizar treinamentos para que comunidades sejam fortalecidas através de projetos imobiliários de menor escala, informa o site da organização.
Esse processo incremental foi empregado pelo arquiteto chileno Alejandro Aravena em seu país para erguer residências a preços acessíveis para 100 famílias em um assentamento precário de Iquique, como assinala reportagem do The City Fix Brasil. O trabalho de Aravena com imóveis populares, por meio do seu escritório Elemental, foi reconhecido com o prêmio Pritzker, o Nobel da Arquitetura, em 2016. O desafio para o arquiteto era manter as pessoas em um terreno com 5 mil metros quadrados e edificar moradias com o subsídio do governo federal de US$ 7,5 mil por família.
A solução encontrada, em parceira com os habitantes locais, foi fazer as fundações, paredes, escadas, cozinhas e banheiros das casas, o que geralmente é o mais difícil de ser bancado pelos residentes. Dessa forma, as famílias poderiam, com o tempo, construir de forma gradual e personificada o restante da sua unidade. Além de não serem deslocados para uma região periférica, os integrantes da comunidade Quinta Monroy, ganharam novos ambientes abertos para as crianças brincarem em frente aos seus imóveis.
3 – Acupuntura urbana
Transformar espaços públicos decadentes em lugares vibrantes a partir de ações pontuais é o objetivo da acupuntura urbana. Assim como a prática da medicina chinesa, as intervenções em diferentes camadas do tecido que compõe as cidades ocorrem de maneira precisa em um local específico, regenerando ambientes e aprimorando as estruturas disponibilizadas para a população. O arquiteto e urbanista curitibano Jaime Lerner foi um dos principais apoiadores desse tipo de planejamento, que não precisa de grandes investimentos ou obras para ser executado. Em 2003, Lerner lançou o livro Acupuntura Urbana, no qual aborda as vantagens do método e como aplicá-lo.
Um sistema de transporte público eficaz, uma rua iluminada pelo comércio noturno, uma feira ao ar livre, um estacionamento que vira jardim ou calçadas bem cuidadas são exemplos da aplicação do conceito que desencadeia melhorias em seu entorno. O termo apareceu pela primeira vez em 1992, usado pelo arquiteto espanhol Manuel de Solà-Morales, que projetou modificações na orla de Barcelona antes das Olimpíadas que aconteceram naquele ano no município. Lerner disse em uma entrevista que a prática da acupuntura urbana resulta em ambientes mais saudáveis, “com uma oferta mais generosa e equilibrada de espaços públicos e de equipamentos para as pessoas”.
4 – Urbanismo enxuto
O Lean Urbanismo (Urbanismo Enxuto), aponta Robert Steuteville, é uma iniciativa que busca, por meio da oferta de ferramentas gratuitas, auxiliar na criação de “zonas rosas”, que são regiões onde as barreiras para a construção de comunidades e de moradias mais acessíveis são reduzidas. Segundo o site da organização, nesses lugares é mais fácil, rápido e barato abrir pequenos negócios e erguer propriedades menores. Isso permite que mais operadores participem de empreendimentos de urbanismo de pequena escala.
A meta desse movimento é que os requisitos impostos aos projetos sejam compatíveis com o tamanho de cada um deles, ou seja, que as obras de porte menor não sejam desproporcionalmente sobrecarregadas. Defensores do urbanismo enxuto enfatizam que diminuir os encargos para pequenos operadores e desenvolvimentos possibilita o crescimento e a revitalização dos bairros com a participação de residentes e empresários.
5 – Urbanismo Tático
Melhorar a experiência dos cidadãos em um local é o foco das ações de urbanismo tático, uma metodologia que reúne diversas iniciativas para alterar e revitalizar um ambiente temporária ou permanentemente. São medidas que podem ser realizadas com menos recursos e mais rapidamente, pondera Steuteville em seu artigo no Public Square. Parklets instalados em vagas de estacionamento na rua, praças, ciclovias, mecanismos para acalmar o trânsito, como a pintura de faixas ou ampliação das calçadas, são apenas alguns exemplos de como esse movimento urbano pode ser adotado nas cidades.
Tornar os espaços mais acessíveis para os indivíduos e contar com a sua participação na definição das medidas que serão efetuadas são outras vantagens dessa prática citadas na matéria do Tomorrow City. O nome urbanismo tático foi criado pelo planejador urbano Mike Lydon e pelo escritor Tony Garcia, ambos integrantes da Street Plans, empresa especializada em projetos nessa área. As modificações desencadeadas na Times Square e arredores, no coração de Nova York (Estados Unidos), aumentando os locais para os pedestres é um dos exemplos desse movimento relatado pela reportagem.
6 – Placemaking
Outra forma de promover grandes impactos com o urbanismo de pequena escala é através do placemaking, que pode ser traduzido do inglês como “fazer lugares”. Essa abordagem multidisciplinar de planejamento, desenho urbano, arquitetura e gestão de ambientes contribui para conceber desenvolvimentos pensados nas pessoas e idealizados com a sua participação efetiva, como frisa matéria do nosso portal. Esse método permite a elaboração de destinos vibrantes e cheios de significado para quem os utiliza.
Disseminada com mais intensidade a partir do final da década de 1990 por meio da organização Project for Public Spaces (PPS), essa visão para os bairros e municípios já estava presente no pensamento de autores como Jane Jacobs e William “Holly” Whyte. Uma praça, rua, um parque ou uma comunidade inteira podem ser definidos por meio de placemaking. Uso misto, comodidades e serviços acessíveis com uma curta caminhada, vias no mesmo nível das calçadas, priorizando os usuários, e a presença de pontos para descanso e contemplação ajudam na composição de espaços qualificados e que são ocupados de maneira espontânea. A Cidade Criativa Pedra Branca, em Palhoça (SC) é um exemplo de um lugar criado para os indivíduos.
7 – Lojas pop-up
O conceito de comércio temporário é algo que faz parte do Novo Urbanismo desde a implementação de Seaside, na Flórida (EUA) – a primeira localidade edificada dentro dos princípios desse movimento –, pontua Robert Steuteville em seu artigo. Ele recorda que o empreendimento abriu uma loja pop-up nos anos 1980, imaginada como um mercado ao ar livre. Podendo ser implementado em um contêiner, barraca, food truck ou funcionar como uma feira de agricultores, esse tipo de comércio traz dinamismo e vitalidade para um ambiente, podendo operar por um determinado período ou evoluir para um estabelecimento fixo.
8 – Bairros de bolso
Proposta de urbanismo popularizada com o lançamento, em 2011, do livro “Pocket Neighborhoods: Creating Small-Scale Community in a Large-Scale World” (Bairros de Bolso: Criando Comunidades de Pequena Escala em um Mundo de Larga Escala, em tradução livre), do arquiteto Ross Chapin, indica o editor do Public Square. Esse formato de projeto reúne um grupo de casas ou de apartamentos em volta de um espaço aberto compartilhado, como descreve o site do movimento. Esse lugar pode ser um jardim, uma rua para pedestres, quintais unidos ou um beco recuperado. Um dos diferenciais dessas iniciativas é o senso de comunidade, onde existe uma grande interação entre vizinhos. Seria como “um bairro isolado dentro de um bairro”.
9 – Habitações pequenas e robustas
Elas surgiram depois do furacão Katrina, que em 2005 provocou grandes prejuízos na parte litorânea do Sul dos Estados Unidos e, principalmente, em Nova Orleans, no estado da Louisiana. São imóveis pequenos e robustos construídos ao mesmo custo de trailers usados como moradias em muitas regiões daquele país. As “Katrina Cottages” são feitas com materiais e estrutura resistentes a furacões e foram planejadas para serem temporárias ou permanentes e, nesses casos, para possibilitar futuras expansões. De acordo com Steuteville, elas compõem um micromovimento de urbanismo de pequena escala e já possuem mais de 250 comunidades dessas casas nos Estados Unidos.
10 – Unidades de Residência Acessória
Tradicionais até a segunda metade do século 20, esse tipo de habitação está retornando com força em estados como a Califórnia e Oregon, nos Estados Unidos, comenta o editor do Public Square em seu artigo. Como o próprio nome diz, as Unidades de Residência Acessória são imóveis que ficam no mesmo lote de uma moradia principal e funcionam como suporte para as funções da construção original ou até mesmo para o aluguel e aumentam a densidade do terreno.
11 – Revitalizando becos
Mais presentes na arquitetura dos municípios norte-americanos, os becos que se formam no meio dos quarteirões contam com um grande potencial para o desenvolvimento de pequena escala, conforme Steuteville. Ele observa que somente em Chicago (Illinois) há 1,9 mil milhas (3.057,74 quilômetros) de becos que poderiam ser usadas para erguer novos empreendimentos.
12 – Casas geminadas
O último mecanismo relacionado pelo editor do jornal do CNU entre os movimentos de urbanismo de pequena escala são as habitações geminadas que, segundo Steuteville, atraem um forte mercado de famílias menores que procuram atualmente comunidades caminháveis para viver. “Pequenas residências geminadas estão voltando em alguns lugares (dos Estados Unidos)”, afirma.
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