novo urbanismo

O novo urbanismo é um movimento que está resgatando a tradição urbana que foi perdida após o Urbanismo Modernista, resgatando as cidades dos automóveis para as pessoas.

O modelo de localidades espalhadas, longe das áreas centrais, dependentes dos carros – disseminado pelo mundo a partir do início do Século XX, revelou seus problemas econômicos, sociais, raciais e de planejamento urbano. Insatisfeitos com essa concepção e suas consequências, um grupo de arquitetos, engenheiros e desenvolvedores começou a debater, no início dos anos 1990, uma visão diferente para as cidades.

No foco dos debates estava o desenho de municípios com ruas e quadras caminháveis e conectadas, comunidades mistas e densas e ambientes verdes e de lazer instalados perto das residências e do comércio e serviços. Assim, eles estabeleceram as bases do Novo Urbanismo, movimento que buscava um reencontro com os princípios que orientaram a formação de vilas e distritos dos últimos séculos.

Essa escola de urbanismo, que surgiu em oposição aos conceitos propostos pelo Modernismo e à construção de baixa densidade que ganhou força no período posterior à Segunda Guerra Mundial, defende localidades projetadas em escala humana e com bairros que possam ser percorridos a pé. A priorização das pessoas em vez dos automóveis no design das cidades e a elaboração dos espaços a partir da perspectiva de como os habitantes irão utilizá-los, adotando ferramentas de placemaking e ouvindo os indivíduos sobre suas necessidades, são outros pilares do Novo Urbanismo.

Um dos propósitos do movimento, como destaca o site do Congresso para o Novo Urbanismo (CNU) – entidade sem fins lucrativo sediada em Washington D.C. (EUA) e aberta em 1993 com o objetivo de difundir essa abordagem sobre os municípios –,  é desenvolver lugares bonitos, vibrantes e que promovam a interação social, onde os cidadãos possam viver saudáveis e felizes. Para que isso se torne uma realidade, os profissionais adeptos dessa linha de pensamento acreditam que o design é peça-chave para a funcionalidade das comunidades. Segundo o CNU, o tamanho e a forma de uma praça ajudam a determinar se ela será usada ou não, assim como aproximar um edifício de uma parada de transporte coletivo auxilia um local a ter um desempenho melhor. E uma região eficientemente organizada beneficia a todos os usuários dos prédios erguidos no local.

O adensamento dos bairros nas áreas próximas a estações de ônibus, de trem ou de metrô (em sintonia com o Desenvolvimento Orientado ao Trânsito, também nascido a partir do movimento) e a inclusão de opções de deslocamento, como caminhar, pedalar e utilizar o transporte público, são outras características que dão base ao Novo Urbanismo. Além disso, essa escola reforça a importância de planejar calçadas melhores e mais seguras e de contar com cafés, restaurantes e outros equipamentos urbanos, como bancos e vegetação, nas vias para impulsionar o convívio comunitário. Os parâmetros que norteiam o movimento podem ser empregados tanto na criação de novos locais como na restauração de centros urbanos, na transformação de extensos subúrbios em bairros variados e na conservação de ambientes naturais.

Carta reúne estratégias para projetar espaços urbanos mais qualificados

O termo Novo Urbanismo foi utilizado pela primeira vez para definir essa maneira de planejar as cidades pelo arquiteto e urbanista Stefanos Polyzoides, em 1991. Em conjunto com Peter Calthorpe, Andrés Duany, Elizabeth Moule, Elizabeth Plater-Zyberk e Daniel Salomon (todos arquitetos e urbanistas), Polyzoides foi um dos pioneiros dessa visão e cofundador do Congresso para o Novo Urbanismo (CNU), como recorda matéria do nosso portal. “É um movimento de design em direção a comunidades completas, compactas e conectadas, mas é também um gerador de ideias que transformam a paisagem”, descreveu o escritor norte-americano Robert Steuteville no livro “25 Grandes Ideias de Novo Urbanismo”, editado pelo CNU.

Steuteville é ainda um dos integrantes da entidade que assinou a Carta do Novo Urbanismo, que reúne os principais critérios defendidos por essa escola e que ajudou a desenvolver e popularizar muitos dos padrões e estratégias que são usados em diversas localidades atualmente. Alguns exemplos são bairros com uso misto do solo, ruas completas e sistemas multimodais, com espaços adequados para a circulação a pé, de bicicleta, de transporte público ou de carro. O documento, assinado em 1996 durante a quarta edição do congresso promovido pela organização, afirma em seu prefácio que: “O Congresso para o Novo Urbanismo vê o desinvestimento nas cidades centrais, a disseminação da expansão sem lugar, o aumento da separação por raça e renda, a deterioração ambiental, a perda de terras agrícolas e selvagens e a erosão do patrimônio edificado da sociedade como um desafio interrelacionado de construção da comunidade”.

A mobilização desses profissionais nasceu dessa frustração com a forma como os municípios vinham sendo idealizados. E os primeiros eventos do CNU foram modelados depois da realização do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) – grupo que concebeu e difundiu o planejamento urbano modernista, como salienta texto do site do CNU que conta sua trajetória. Essa abordagem de desenvolvimento das localidades aponta que as cidades do século 21 devem ter bairros diversificados em uso e população, projetados principalmente para pedestres, mas sem deixar os automóveis de fora, que possuam ambientes públicos e instituições comunitárias definidos e acessíveis.

O movimento teve suas práticas disseminadas especialmente pela atuação do escritório comandado por Andrés Duany e Elizabeth Plater-Zyberk, o DPZ. Duany, inclusive, foi a inspiração para a consolidação do empreendimento Cidade Criativa Pedra Branca, em Palhoça (SC), como um dos maiores exemplos de Novo Urbanismo no Brasil. As ideias dessa escola influenciaram iniciativas como o Ruas Completas, lançado em 2003, e o Desenvolvimento Orientado ao Trânsito (do inglês TOD – Transit Oriented Development), concebido na década de 1980 por Peter Calthorpe, um dos cofundadores do CNU. O TOD deslanchou nos anos 2000 quando agências e planejadores de tráfego descobriram o valor da proximidade de moradias e comércio do trânsito.

 

Como devem ser os bairros idealizados dentro dos parâmetros do movimento

Na Carta do Novo Urbanismo são destacados, ainda, 27 dos principais parâmetros apoiados por essa escola, com o conteúdo dividido em três capítulos: A região – metrópole, cidade e vila; O bairro, o distrito e o corredor; e O quarteirão, a rua e o pedestre. No que se refere às comunidades, o manifesto ressalta a relevância delas serem compactas e amigáveis aos pedestres, assim como contarem com usos diversificados e a utilização de corredores como conexões entre os bairros. “Muitas atividades da vida diária devem ocorrer a uma curta distância, permitindo independência a quem não dirige, incluindo idosos e jovens. Redes interconectadas de ruas devem ser planejadas para incentivar a caminhada, reduzir o número e duração das viagens de automóvel e economizar energia”, reforça o documento.

A carta enfatiza também a necessidade de as comunidades terem diferentes tipos de habitação e preços para conseguir atrair pessoas de distintas idades, raças e rendas para a interação diária. Destaca, igualmente, que construções com densidades e usos apropriados devem ficar perto de paradas de transporte público – para que ele se torne uma alternativa viável aos carros –, e que as escolas precisam ser dimensionadas e implementadas de modo que as crianças possam ir a pé ou de bicicleta de suas casas até elas.

Além disso, orienta que uma variedade de parques, praças, gramados, campos de futebol e hortas comunitárias seja distribuída nos bairros, assim como áreas abertas e de conservação ambiental devem ser empregadas para dar o contorno e ligar os distritos. Por fim, observa que os corredores de trânsito, quando bem projetados, podem auxiliar na organização da estrutura metropolitana e revitalizar centros urbanos. Em 2009, alguns dos participantes do Congresso para o Novo Urbanismo, entre eles formuladores do manifesto da década de 1990, criaram o Cânones de Arquitetura e Urbanismo Sustentável, um documento com critérios operacionais para que os municípios restabeleçam a relação entre a arte de construir e a de fazer comunidades e preservar os recursos naturais, salientando a preocupação com o meio ambiente na visão para as cidades.

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