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Municípios de diversas partes do planeta vêm investindo cada vez mais em inovação para coletar informações em tempo real sobre suas áreas e serviços e, com isso, qualificar a vida de seus moradores e suas experiências nos ambientes.

Da otimização do trânsito e aumento da segurança pública ao aperfeiçoamento dos sistemas de transporte, saúde e de gestão de resíduos e planejamento de lugares verdes, as novas tecnologias têm auxiliado uma série de localidades a tomarem decisões mais eficientes sobre os seus espaços e recursos – com impactos positivos no dia a dia de seus residentes. Com um amplo leque de aplicações, Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), dados de geolocalização e outras inovações estão tornando as cidades mais capacitadas para a administração de sua infraestrutura e serviços e para o futuro.

A integração entre a IA, com o seu potencial de processar e avaliar grandes quantidades de informações e dar insights sobre a vida urbana, a IoT e a análise de big data vem contribuindo para que as regiões fiquem mais habitáveis, resilientes e sustentáveis, aponta artigo do Urban Design Lab. Caracterizados em sua maioria por uma estrutura estática e gestões reativas, os municípios estão sendo transformados em entidades dinâmicas e inteligentes, capazes de aprender, se adaptar e responder agilmente às demandas e comportamentos de seus moradores, acrescenta a publicação.

Essa nova realidade, com o desenvolvimento das localidades cada vez mais orientado pela tecnologia, está promovendo mudanças não apenas na administração das áreas urbanas, mas também na participação da população nas questões relevantes sobre os ambientes onde vivem. Segundo o Urban Design Lab, isso ocorre porque há mais acesso aos dados e, consequentemente, um engajamento maior das pessoas nos assuntos que dizem respeito à qualidade dos lugares que frequentam, de suas comunidades e dos serviços que utilizam. Isso acaba, conforme o artigo, redefinindo ainda o relacionamento que os residentes estabelecem com os governos locais.

Relatório da consultoria McKinsey revelou que cidades que adotam recursos inovadores para a gestão de sua infraestrutura podem melhorar alguns indicadores-chaves de qualidade de vida entre 10% a 30%, o que pode significar mais proteção aos habitantes, deslocamentos mais curtos e redução na produção de gases de efeito estufa. No setor ambiental, por exemplo, a pesquisa identificou que a combinação de sistemas de automação de edifícios, preços dinâmicos de eletricidade e soluções de mobilidade pode representar uma diminuição na geração de emissões de 10% a 15%.

Já o rastreamento do consumo de água, que alia a medição avançada com o envio de mensagens digitais de feedback, pode incentivar os indivíduos a reduzirem o uso desse recurso e a uma maior conscientização sobre a importância de sua conservação em 15% em municípios onde a utilização residencial da água é alta. Em várias partes do globo, ressalta a consultoria, a maior fonte de desperdício desse bem natural é o vazamento de canos. Com a instalação de sensores e o estudo dos dados apurados, é possível diminuir em até 25% essas perdas.

Esse tipo de estratégia também é eficiente para monitorar a qualidade do ar. Pequim (China), de acordo com o levantamento, conseguiu uma queda dos índices de poluentes atmosféricos de aproximadamente 20% em menos de um ano através do rastreamento das fontes geradoras dessas partículas e regulando o tráfego e a construção civil. Recursos tecnológicos, como aplicativos, podem ainda ser empregados para acompanhar a saúde das pessoas e colaborar para prevenir doenças crônicas, relata a McKinsey, como diabetes ou problemas cardíacos. A consultoria assinala que o monitoramento remoto de pacientes oferece uma chance de reduzir os custos nesse segmento em localidades de alta renda em mais de 4%. Por sua vez, a telemedicina, com consultas clínicas por meio de videoconferência, pode salvar vidas em cidades de baixa renda com escassez de médicos.

Segundo o relatório, até 2025, os municípios que investirem em aplicativos de mobilidade inteligente terão a possibilidade de diminuir o tempo de locomoção, em média, de 15% a 20%. A consultoria salienta que essa queda está condicionada a fatores como a densidade da região, a infraestrutura existente e os padrões de deslocamento. Em uma localidade densa com o trânsito extenso, as inovações podem significar uma economia ao viajante de em torno de 15 minutos por dia, exemplifica a pesquisa. Além disso, a McKinsey agrega que o uso de sinalização digital ou de aplicativos móveis para fornecer informações em tempo real sobre atrasos permite que os passageiros façam ajustes em suas rotas rapidamente e que a instalação de sensores de IoT na estrutura física existente pode ajudar as equipes das prefeituras a consertarem defeitos antes que eles virem avarias maiores e motivos para congestionamentos.

A escassez de moradias, um dos grandes desafios enfrentados pelas cidades, também pode ser combatida com a tecnologia. A digitalização de processos sobre aquisição de terras, estudos ambientais e aprovações de projetos e autorizações auxilia na redução da burocracia e agiliza esses procedimentos, estimulando a construção de mais imóveis. Outro ponto observado pela consultoria é que a maioria dos municípios conta com uma grande quantidade de terras ociosas que poderiam ser adequadas para a habitação. A criação de bancos de dados cadastrais de código aberto pode contribuir na identificação desses terrenos para a edificação de novos empreendimentos.

Tendências tecnológicas que vão facilitar a vida nos espaços urbanos

As cidades inteligentes, localidades que aplicam as inovações tecnológicas como ferramentas para promover o bem-estar, a saúde de seus residentes e minimizar os reflexos ambientais, já estão implementando novos recursos e conveniências que irão proporcionar mais comodidades, segurança e sustentabilidade nas áreas urbanas. Conheça algumas das principais tendências listadas por especialistas do Conselho de Tecnologia da Forbes que estão saindo das histórias de ficção científica para a realidade do cotidiano, como os carros autônomos que devem transformar a mobilidade nos municípios.

Com uma frota de automóveis elétricos, o Waymo disponibiliza esse tipo de serviço em São Francisco (EUA). Funcionando como os demais aplicativos de transporte, os usuários baixam um app, selecionam o endereço do destino e aguardam a chegada do veículo, que tem suas portas destrancadas pelo passageiro via aplicativo. A viagem inicia com um toque na tela do painel, que mostra a rota a ser feita. Até quatro indivíduos podem usar o carro. Segurança e sustentabilidade são enfatizadas pela empresa como as maiores vantagens desse meio de locomoção, que enfrenta ainda os desafios da falta de infraestrutura necessária para operar em larga escala. Hoje, o Waymo atende também Los Angeles (Califórnia) e Phoenix (Arizona).

A maior utilização de dados de geolocalização pelas cidades é outra inovação reforçada pelos especialistas ouvidos pela Forbes que está colaborando para reunir informações úteis sobre o comportamento dos indivíduos e padrões de movimento. Isso já tem sido empregado para diminuir os engarrafamentos e para decidir onde instalar estruturas e atrair novos negócios e pode ser ampliado, aprimorando os serviços públicos que as pessoas precisam.

A Inteligência Artificial (IA) também ajudará a melhorar o transporte coletivo, ajustando dinamicamente os trajetos e horários com base em informações em tempo real, reduzindo a espera e tornando esse modo de fazer os percursos mais eficiente, o que auxiliará a elevar o número de usuários que o utilizam. Outra tendência indicada é a dos armazenamentos inteligentes para o recebimento de mercadorias ou de refeições. Para os analistas, ter um endereço virtual que segue o indivíduo será o futuro das entregas e trará mais comodidade.

No campo do empreendedorismo, os espaços de trabalho flexíveis e os “laboratórios pilotos” são destacados como iniciativas para o fortalecimento de pequenas e médias empresas. Essas instalações, explica a Forbes, oferecem o lugar, a tecnologia e o mobiliário para o funcionamento das companhias. Alguns desses locais possuem também uma equipe para contribuir na coordenação, colaboração e mentoria dos negócios. Além disso, com a evolução da IA, os serviços fornecidos por máquinas irão processar e entender cada vez mais a linguagem natural, aperfeiçoando a experiência das pessoas com esses mecanismos.

Incremento da segurança dos dados das cidades inteligentes, com ações mais eficazes de prevenção e detecção de violações das informações, e estacionamentos inteligentes são outras inovações que devem ganhar mais visibilidade nos municípios. As vagas inteligentes funcionam por meio de sistemas de sensores e câmeras implementados nas ruas e da avaliação dos dados para comunicar em tempo real sobre a disponibilidade de áreas para os veículos, diminuindo o tempo de procura e os congestionamentos, como o de São Francisco, o SF Park.

Em um futuro não muito longe, os analistas entrevistados acreditam ainda que haverá serviços de manutenção 24 horas por dia, sete dias por semana, sendo efetuados por robôs controlados por Inteligência Artificial, que poderão consertar vias públicas, plantar árvores e remover lixo. Centros de micromobilidade também deverão ser instalados em diferentes regiões, com bicicletas elétricas, patinetes e opções de compartilhamento de automóveis, todos acessíveis por meio de uma plataforma digital única com IA para otimizar rotas, avisar sobre a necessidade de revisões, disponibilidade dos equipamentos e outras dicas para qualificar os deslocamentos e reduzir os engarrafamentos e a poluição do ar.

Como localidades pelo mundo estão usando a tecnologia na administração urbana?

A utilização da Inteligência Artificial (IA) integrada com o planejamento das cidades já é uma realidade em lugares como Barcelona (Espanha), cita o artigo do Urban Design Lab. No município espanhol, a IA vem sendo adotada para melhorar o gerenciamento de resíduos e da iluminação pública. Em Seul (Coreia do Sul), por exemplo, as lixeiras – por meio da Internet das Coisas (IoT) – sinalizam quando estão lotadas. O mesmo recurso é empregado em Los Angeles para verificar o vazamento de água, complementa a publicação.

Em Singapura, drones instalados nos telhados de prédios altos inspecionam todos os dias as fachadas dos empreendimentos em busca de falhas. A próxima evolução dessa tecnologia deve ser o emprego de robôs alimentados com IA para fazer os reparos necessários, adiantam o urbanista residente no Urban Tech Hub do Instituto Jacobs da Universidade Cornell, Anthony Townsend, e o fundador da Urban IA, Hubert Beroche, em artigo para a Bloomberg.

Eles comentam ainda sobre o software da empresa CANN Forecast, de Montreal, que monitora os serviços de água e esgoto de todo o Canadá, ajudando na prevenção de falhas nos canos e na agilização dos reparos, e a startup State of Place, que atua nos Estados Unidos, Europa e Ásia, e pode estimar o retorno do investimento para aprimoramentos na acessibilidade, o que deve – conforme os autores – encorajar mais comunidades a projetarem bairros densos, menos dependentes dos veículos e mais preparados para as mudanças climáticas.

Townsend e Beroche escrevem também sobre o Plano de Ação de Inteligência Artificial da prefeitura de Nova York (EUA), lançado em 2023. Neste ano, o programa deverá medir os riscos das ferramentas de IA, envolver o público nas decisões sobre esse assunto e encontrar os talentos que o governo precisa para construir a sua própria Inteligência Artificial com responsabilidade e eficiência.

O desenvolvimento de espaços verdes é mais um setor que pode ser beneficiado pela tecnologia, aponta matéria do Fast Company. O uso de monitores de árvores, imagens em 3D e outras inovações vinculadas à IoT podem auxiliar a gerenciar florestas urbanas inteligentes, acompanhando a saúde do solo, os índices de poluição do ar ou garantir que esses ambientes sejam molhados corretamente. Esses recursos podem mapear e impulsionar a biodiversidade e assegurar que as áreas verdes sejam implementadas nos locais mais adequados.

Uma referência dada pela publicação é a pesquisa Treepedia, do Senseable City Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Com o foco em árvores de ruas para pedestres encontradas em várias partes do planeta, a medida tem o objetivo de aumentar a conscientização sobre as florestas urbanas através da utilização de técnicas de visão digital baseadas em imagens do Google Street View. Ao mesmo tempo que as inovações trazem uma série de vantagens para as cidades, o Urban Design Lab alerta que um dos seus desafios no urbanismo é garantir o acesso equitativo às inovações e aos seus benefícios.

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